Caroline Darian, filha de Gisèle Pelicot, afirmou em entrevista ao The Telegraph que cortou relações com a mãe, depois daquele que foi considerado um dos julgamentos mais mediáticos do ano passado.
A filha da mulher que comoveu o mundo, por ter sido vítima de abusos sexuais durante décadas às mãos do próprio marido, diz que não vê a progenitora como um ícone e que se sentiu magoada com o comportamento da mesma durante o julgamento.
Tudo terá começado, alega, a partir do momento em que esta afirmou que também fora uma vítima do seu pai.
"A minha mãe largou a minha mão naquele tribunal", lamentou Caroline, afirmando mesmo que a mãe a "abandonou".
"Durante quatro anos, acompanhei a minha mãe para todo o lado. E não foi fácil", lembra, referindo que no momento em que ela própria denunciou os abusos de que foi alvo, a mãe "largou a minha mão".
Caso que chocou o mundo
O caso de Gisèle Pelicot tornou-se público em 2024 chocando o mundo inteiro. A mulher descobriu que foi drogada e abusada sexualmente por vários homens durante mais de duas décadas, em atos sexuais que eram organizados pelo próprio marido.
O crime só se tornou conhecido depois de o homem, Dominique Pelicot, ter sido apanhado num centro comercial a tirar fotos por baixo da saia de uma mulher. O homem foi interpelado pelo segurança do espaço e acabou detido, tendo as autoridades descoberto centenas de imagens da mulher em atos sexuais com outros homens, no seu telemóvel.
Filha também terá sido vítima
Entretanto, durante o julgamento descobriu-se que entre as centenas de ficheiros que o homem tinha havia, também, imagens da filha em roupa interior a dormir.
Apesar de garantir que nunca tinha cometido atos sexuais contra a filha, Caroline testemunhou em tribunal, afirmando acreditar também ela ter sido sujeita aos mesmos atos que a sua mãe.
Porém, quando Gisèle foi questionada sobre esta questão, esta ter-se-á recusado a depor. Caroline chegou a afirmar que ela era a vítima inclusive de Dominique e que a única coisa que a diferenciava da mãe era o facto de não ter provas.
Assim, a falta de apoio da progenitora, fê-la afastar-se de Gisèle. "A minha mãe foi catapultada para o centro das atenções; tornou-se um ícone. Entretanto, lá estávamos nós, de volta à realidade, com todas essas perguntas sem resposta — e estamos magoados. A minha mãe não é um ícone — não para mim", atirou.
Pena máxima para Dominique
No julgamento de Mazan, 51 homens com idades entre os 27 e os 74 anos foram considerados culpados e condenados por terem violado Gisèle Pelicot, cuja coragem foi elogiada e considerada um marco por rejeitar que o processo decorresse à porta fechada.
Dominique Pelicot, de 72 anos, foi condenado em 19 de dezembro a 20 anos de prisão pelo Tribunal de Avignon, no sul de França, por violação agravada.
Pelicot, que admitiu ter violado e drogado com ansiolíticos a vítima durante anos para ser violada por dezenas de desconhecidos recrutados na Internet, foi condenado com a pena máxima em França, tendo já anunciado que não vai recorrer.
O principal arguido foi também considerado culpado de filmar e possuir imagens tiradas sem o conhecimento de Gisèle, de 72 anos, tendo registos de quase 200 violações, mas também por ter imagens da filha e das noras.
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