"Continuaremos com a reforma da justiça, apesar das invasões de campo de uma minoria de juízes politizados que tentam substituir o parlamento e a vontade popular", declarou, na sua intervenção na 46.ª edição do Encontro de Rimini, a líder da coligação governamental de direita radical, formada pelos Irmãos de Itália (partido pós-fascista de Meloni), pelo partido de extrema-direita Liga, de Matteo Salvini, e pelo Força Itália (direita), de Antonio Tajani.
De acordo com Meloni, esta reforma será feita "não para submeter o poder judicial ao poder político, como dizem alguns mal-informados ou mal-intencionados, mas, pelo contrário, para tornar a Justiça mais eficiente para os cidadãos e menos condicionada pela má influência das correntes políticas e preconceitos ideológicos" e "para libertá-la".
Gozando de forte apoio na plateia -- o fórum de Rimini, que se realiza anualmente no final de agosto nesta cidade localizada na costa adriática e que marca a 'rentrée' política em Itália, é organizado pelo influente grupo ativista católico Comunhão e Libertação -, Meloni prosseguiu os ataques ao setor da justiça sob fortes aplausos, tendo-se mesmo emocionado com uma ovação de pé.
"Quero deixar claro que qualquer tentativa de nos impedir de controlar o fenómeno da imigração ilegal será rejeitada. Não há juiz, político ou burocrata que possa impedir-nos de fazer cumprir a lei do Estado italiano, garantir a segurança dos cidadãos, combater os escravistas do terceiro milénio e salvar vidas humanas", disse, noutro momento da sua longa intervenção, de cerca de uma hora, que se assemelhou a um comício de 'rentrée' (o primeiro Conselho de Ministros depois das férias tem lugar já na quinta-feira, em Roma).
Os ataques do Governo de Meloni ao poder judicial intensificaram-se no quadro das decisões tomadas desde 2024 por tribunais italianos que têm tornado inviável o polémico projeto de enviar para centros de detenção na Albânia imigrantes clandestinos resgatados no Mar Mediterrâneo, e que levou a primeira-ministra a acusar os juízes de tomarem decisões "ideológicas", ordenando o regresso a Itália de imigrantes com registo criminal.
O conflito acesso entre os poderes executivo e judicial de Itália decorre também à luz da controversa reforma da Justiça que Roma pretender levar a cabo e que consiste em separar as carreiras dos magistrados, de modo a que estes deixem de poder alternar entre a magistratura do Ministério Público e a magistratura judicial.
Enquanto o Governo alega que a legislação, já apresentada, mas que requer alterações à Constituição, evitará relações demasiado próximas entre juízes e procuradores, o sindicato nacional dos magistrados denuncia que o plano tem como objetivo colocar os procuradores sob o controlo do executivo.
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