Trata-se de uma das questões mais controversas nas relações entre o Governo de Copenhaga e a Gronelândia, território autónomo dinamarquês, e que tem sido motivo de protesto desde que a televisão pública, DR, revelou que pelo menos 4.500 mulheres e adolescentes (com apenas 12 anos) tinham implantados dispositivos intrauterinos (DIU).
Na maior parte dos casos, os dispositivos foram implantados sem consentimento e com subsequentes danos físicos e psicológicos.
"Não podemos desfazer o que aconteceu, mas podemos assumir as nossas responsabilidades", disse hoje a chefe do executivo, num comunicado em que pede "desculpas" em nome da Dinamarca.
O método contracetivo imposto às mulheres da Gronelândia decorreu entre a década de 1960 e o ano de 1991, quando o território autónomo assumiu a responsabilidade pela assistência médica.
"Reconhecemos que este caso tem sido uma fonte de raiva e pesar para muitas famílias na Gronelândia. Teve naturalmente um impacto na forma como a Dinamarca e a Comunidade do Reino [que também inclui as Ilhas Faroé] são entendidas", disse a primeira-ministra.
Frederiksen condenou o que considerou "o abuso" cometido pelas autoridades de saúde dinamarquesas e falou da importância de a Dinamarca assumir responsabilidades e aprender com o sucedido, estendendo o pedido de desculpas a outros "capítulos sombrios" no tratamento dado aos habitantes da Gronelândia.
A iniciativa de controlo da natalidade fez parte de uma campanha estatal de planeamento familiar num território que tinha abandonado o estatuto colonial em 1953 para se tornar em província dinamarquesa e que estava a passar por um plano de modernização.
Nos últimos anos, os defensores da medida alegaram que a campanha foi impulsionada por um planeamento familiar "criterioso" porque a região registava na altura uma das taxas de natalidade mais elevadas do mundo.
O caso está a ser investigado por uma comissão conjunta, que deve anunciar as conclusões em setembro.
Por outro lado, 143 mulheres gronelandesas processaram o Estado dinamarquês por violação dos direitos humanos, pedindo uma indemnização de 43 milhões de coroas (5,8 milhões de euros).
O governo da Gronelândia iniciou também uma investigação paralela reservando 4,5 milhões de coroas suecas (aproximadamente 600 mil euros) para eventuais indemnizações.
O presidente da Gronelândia, Jens-Frederik Nielsen, também pediu hoje desculpas em nome da região autónoma pelos danos e abusos que várias mulheres possam ter sofrido.
No ano passado, o antecessor no cargo de presidente da região autónoma, Mute B. Egede, descreveu o caso como "genocídio".
Leia Também: Dinamarca acusa EUA de operações de interferência política na Gronelândia