"Continuamos à espera de uma resposta", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed al-Ansari, numa conferência de imprensa em Doha.
"E as declarações que ouvimos atualmente não nos deixam confiantes de que, se houvesse um compromisso, este seria positivo", afirmou Al-Ansari, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
O Hamas disse na semana passada que aceitou uma nova proposta de trégua dos mediadores Egito, Qatar e Estados Unidos.
De acordo com fontes palestinianas, a proposta prevê a libertação faseada dos reféns durante uma trégua inicial de 60 dias, em troca de prisioneiros palestinianos detidos por Israel.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou na quinta-feira ter ordenado negociações com vista à "libertação de todos os reféns e ao fim da guerra em condições aceitáveis para Israel".
Ao mesmo tempo, aprovou uma nova ofensiva militar para tomar o controlo da cidade de Gaza, um dos últimos bastiões do Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007.
"Cabe à parte israelita responder à oferta que está em cima da mesa. Tudo o resto não passa de postura política", declarou Al-Ansari, acrescentando que o Qatar não via "uma saída positiva" para o agravamento da situação no terreno.
Netanyahu convocou uma reunião do gabinete de segurança para esta tarde (hora local), durante a qual poderá ser abordada a proposta dos mediadores aceite pelo Hamas, de acordo com jornais israelitas.
A reunião foi convocada na segunda-feira à noite, horas depois do ataque israelita contra o Hospital Nasser de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, que causou 20 mortos, incluindo cinco jornalistas.
O gabinete de segurança vai reunir-se sob a pressão de manifestações convocadas pelo Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos, que representa a maioria dos familiares das pessoas raptadas nos ataques do Hamas de 07 de outubro de 2023.
Vários grupos de manifestantes bloquearam hoje de manhã algumas das principais estradas de Israel para exigir um acordo de cessar-fogo e a libertação dos reféns ainda na Faixa de Gaza, que serão 50, dos quais apenas 20 estarão vivos.
A imprensa israelita também noticiou hoje, citando meios de comunicação árabes, que o Egito mobilizou 40.000 soldados para o norte do Sinai por recear que palestinianos em fuga tentem atravessar a fronteira do país com Gaza.
Israel tem em curso uma ofensiva militar na Faixa de Gaza desde que sofreu o ataque do Hamas, que causou cerca de 1.200 mortos e o rapto de 250 pessoas, feitas reféns.
A ofensiva israelita provocou mais de 62.700 mortes em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados fiáveis pela ONU.
Após quase três anos de guerra, a ONU declarou na sexta-feira uma situação de fome na província de Gaza, no norte do território, o que acontece pela primeira vez no Médio Oriente.
As autoridades de Gaza afirmam que cerca de 300 pessoas, muitas das quais crianças, morreram devido a problemas causados pela desnutrição nos últimos meses.
A porta-voz da UNICEF para o Médio Oriente, Tess Ingran, disse na segunda-feira que os casos de subnutrição de crianças na Faixa de Gaza passaram de 2.000 em fevereiro para quase 13.000 em julho.
Trata-se de "um aumento muito grande num curto espaço de tempo", afirmou em entrevista à agência Lusa, alertando que se a situação não se alterar, muitas crianças "deverão passar fone nas próximas semanas".
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