"É uma moção absolutamente racista", disse a ministra da Migração, Elma Saiz, à televisão pública espanhola TVE, sobre a medida aprovada pelo conselho municipal de Jumilla.
Jumilla, uma cidade de 27.000 habitantes localizada na região de Múrcia, é conhecida pelo seu vinho e, como em toda a zona, acolhe uma importante população muçulmana que trabalha essencialmente no setor agrícola.
"Estaremos muito atentos para, obviamente, proteger e acompanhar a população", advertiu Saiz, ministra do governo de Pedro Sánchez (socialista), referindo-se a esta medida, que considerou inconstitucional, aprovada na quarta-feira pelo Partido Popular (PP, conservador) com a abstenção do Vox (extrema-direita), que desejava um texto mais duro.
A medida, que visa proibir a celebração de rituais religiosos em instalações desportivas municipais, foi uma proposta e uma condição do Vox para dar o seu apoio e aprovar os orçamentos municipais apresentados pela presidente da câmara do PP.
Concretamente, as festas muçulmanas, como a do sacrifício do cordeiro ou a do fim do mês de jejum do Ramadão, deixam de poder ser realizadas nesses espaços, como acontecia até agora.
Esta polémica surge algumas semanas após confrontos noutra cidade da região, Torre Pacheco, palco de várias noites de distúrbios provocados por grupos de extrema-direita, depois de um reformado ter denunciado uma agressão por três jovens de origem magrebina.
O PP, principal partido da oposição, argumentou que a decisão "não tem nada a ver com religião nem com nacionalidades", mas que se trata simplesmente de uma "alteração legal", afirmou o vice-secretário-geral popular, Elías Bendodo, numa conferência de imprensa.
Por seu lado, o Vox congratulou-se com a medida, assegurando, na rede social X, que "Espanha é e será sempre uma terra de raízes cristãs!".
Organizações muçulmanas e católicas criticaram a medida.
"[É] uma decisão que atinge o cerne da nossa identidade plural e causa um prejuízo significativo à nossa comunidade, com um impacto particularmente doloroso para os cidadãos muçulmanos", escreveu na rede social X Mohamed Ajana El ouafi, secretário da Comissão Islâmica de Espanha.
"As manifestações religiosas públicas, entendidas como liberdade de culto, são protegidas pelo direito à liberdade religiosa", recordaram os bispos católicos, num comunicado da Conferência Episcopal Espanhola.
Já hoje, os responsáveis da comunidade islâmica de Jumilla apelaram à calma e remeteram quaisquer decisões para uma assembleia que se realizará em meados de setembro.
"Esta manhã enviámos uma mensagem de tranquilidade porque amanhã [sexta-feira] começam as festas mais famosas" da localidade, ligadas ao vinho, disse à agência de notícias espanhola EFE o líder da comunidade, Mohamed Benallal.
"Vamos realizar uma assembleia geral democrática a 14 ou 15 de setembro com as nossas comunidades e outras comunidades vizinhas, com todos os que estão envolvidos neste assunto, e vamos ver como resolver a questão, pois há muitas opiniões e só podemos decidir quando os membros [entre 2.000 e 3.000] votarem", indicou.
O representante defendeu a possibilidade de procurar "uma solução alternativa sem problemas".
"Há opiniões que optam por pedir outros espaços e outras que dizem que também pagamos impostos à Câmara Municipal e ao Estado e temos direito ao uso de instalações públicas", referiu.
"Se há obrigações, também há direitos, e o que foi aprovado vai contra a lei, na minha opinião pessoal", comentou.
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