Líbano acusa Irão de "ingerência inaceitável" no apoio ao Hezbollah

O Governo libanês acusou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, de "ingerência inaceitável", no seguimento de declarações em que prevê o fracasso do desarmamento do grupo xiita Hezbollah, aliado de Teerão.

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© Getty Images

Lusa
07/08/2025 17:57 ‧ ontem por Lusa

Mundo

Líbano

"Este tipo de declarações prejudica a soberania, a unidade e a estabilidade do Líbano e constitui uma interferência inaceitável nos seus assuntos internos e decisões soberanas", condenou o Ministério dos Negócios Estrangeiros libanês em comunicado.

 

A reação de Beirute acontece no mesmo dia em que o executivo libanês tem uma reunião prevista para discutir a sensível questão do desarmamento do Hezbollah, que se opõe a esta decisão.

Numa entrevista na quarta-feira à televisão estatal iraniana, Araghchi apoiou a rejeição do Hezbollah à decisão, tomada esta semana pelo Conselho de Ministros libanês, de encarregar o Exército de preparar um plano para desarmar o movimento xiita.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros libanês afirmou que esta questão "não diz de forma alguma respeito à República Islâmica", alertando que as relações bilaterais devem basear-se em valores como o "respeito mútuo" e a plena aceitação das decisões tomadas por instituições legítimas.

"É completamente inaceitável que estas relações sejam utilizadas para promover ou apoiar atores nacionais fora da estrutura do Estado libanês e das suas instituições legítimas, ou à custa do próprio Estado", criticou ainda o ministério no seu comunicado.

Teerão é considerado o principal patrocinador do Hezbollah, tendo alegadamente estado na origem da criação do grupo xiita, e de o financiar e equipar com armamento durante décadas.

A par do Hamas na Palestina e dos Huthis do Iémen, o Hezbollah constitui o chamado eixo da resistência apoiado por Teerão, e que se envolveu em hostilidades militares com Israel, logo após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.

Após quase um ano de troca de tiros ao longo da fronteira israelo-libanesa, Israel lançou uma forte campanha aérea no verão do ano passado, que decapitou a liderança do movimento xiita, incluindo a morte do seu líder histórico, Hassan Nasrallah, nos arredores de Beirute, e de várias outros altos membros da sua hierarquia política e militar.

Desde o final da guerra com Israel que o Estado libanês tem procurado concentrar todo o armamento do país nas mãos das forças de segurança oficiais, mas até agora estava a favorecer entregas voluntárias de armas por receio de uma escalada interna.

Sob pressão dos Estados Unidos e entre receios de uma intensificação dos ataques israelitas no Líbano, o Governo dedicou uma primeira reunião ao assunto na terça-feira e encarregou o Exército de preparar um plano para desarmar o movimento xiita até ao final do ano.

Uma segunda reunião foi marcada para hoje, tendo na agenda a revisão do conteúdo de um memorando apresentado pelo enviado norte-americano, Tom Barrack, incluindo um cronograma para o desarmamento do Hezbollah.

A decisão é inédita desde o fim da guerra civil, há mais de 30 anos, sendo o Hezbollah o único grupo que não depôs as suas armas e mantém até hoje uma estrutura política e militar paralela ao Estado libanês.

O Governo alega agir dentro da estrutura do cessar-fogo mediado por Washington, que suspendeu o conflito entre o Hezbollah e Israel em 27 de novembro.

Em resposta à decisão de desarmamento, o Hezbollah, que saiu militar e politicamente bastante enfraquecido dos intensos ataques israelitas, acusou o Governo de cometer um "pecado grave" e ameaçou continuar a agir como se a decisão "não existisse".

O bloco parlamentar do movimento apelou hoje ao Governo para "corrigir a situação em que se colocou e ao Líbano, aceitando as exigências americanas, que inevitavelmente servem os interesses do inimigo sionista [Israel]".

O Hezbollah considera que a decisão do seu desarmamento "atinge a soberania do Líbano" e "dá carta-branca a Israel para minar a sua segurança, geografia, política e existência futura".

O porta-voz da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL), Andrea Tenenti, revelou hoje em comunicado que as tropas internacionais destacadas ao longo da fronteira israelo-libanesa "descobriram uma extensa rede de túneis fortificados perto de Naqoura, incluindo vários esconderijos, peças de artilharia, múltiplos lançadores de 'rockets', bem como centenas de projéteis e 'rockets', minas antitanque e outros explosivos".

Apesar do cessar-fogo em vigor, Israel continua a visar posições e alvos alegadamente do Hezbollah e ameaça voltar a intensificar as suas operações militares caso o movimento não se desarme.

Os mais recentes ataques israelitas mataram duas pessoas na quarta-feira no sul do Líbano, segundo o Ministério da Saúde de Beirute.

Leia Também: Israel bombardeia alvos do Hezbollah no sul do Líbano

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