O governo da China anunciou, na semana passada, que vai começar a pagar às famílias que tenham mais filhos. A medida contrasta com a política de filho único que era defendida até ao momento e que punia os pais que tivessem mais do que uma criança.
Durante décadas, as autoridades do país pressionaram os casais para terem poucos filhos, aplicando multas a quem não o fizesse e obrigando muitos a submeterem-se a interrupções de gravidez ou processos de esterilização.
A família de Zane Li é um desses casos. À CNN Internacional o jovem conta que tinha 9 anos quando a sua irmã nasceu. A família foi multada pela situação, tendo-se endividado e vivido vários anos em condições económicas mais frágeis. A situação deixou marcas no jovem, que agora, com 25 anos, afirma que ser pai não faz parte dos seus objetivos de vida. A opinião é partilhada por grande parte dos jovens que cresceu na mesma época.
Para contrariar isso, num anúncio feito na semana passada, e na tentativa de aumentar a natalidade no país, o governo chinês anunciou que vai pagar um subsídio anual de 3.600 yuan [433 euros] por cada criança até aos três anos, sendo que a medida tem retroativos a 1 de janeiro.
A iniciativa, ainda assim, não convence Zane Li. "Os custos de criar uma criança são enormes e 3.600 yuan por ano é uma gota no oceano".
“(Ter filhos) só me traria mais dificuldades. Não sou capitalista nem nada parecido, e meu filho provavelmente também não teria uma vida muito boa”, afirma o jovem que está a estudar Saúde em Pequim.
Assim, a perspetiva sombria sobre a parentalidade, alimentada pela desaceleração da economia chinesa e pelo aumento do desemprego entre os jovens, apresenta-se como um grande obstáculo aos esforços do governo para incentivar os jovens a casarem-se e a terem filhos.
Mas há mais medidas de apoio
Recorde-se que, além deste incentivo económico, a China anunciou que vai começar a implementar a gratuitidade do ensino pré-escolar a partir do próximo ano letivo, em mais uma tentativa de combater a crise demográfica no país mais populoso do mundo depois da Índia.
"A partir do semestre de outono de 2025, serão eliminadas as propinas e taxas de educação para as crianças do último ano do ensino pré-escolar público", indicou o Conselho de Estado, adiantando que pretende "promover progressivamente a gratuitidade da educação pré-escolar".
A população chinesa tem vindo a diminuir nos últimos anos. Projeções das Nações Unidas estimam que poderá cair dos atuais 1,4 mil milhões para cerca de 800 milhões até 2100.
Em 2023, registaram-se cerca de 9,54 milhões de nascimentos na China, metade do valor de 2016, ano em que o país aboliu a política do filho único, em vigor há mais de três décadas.
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