Ministra francesa e ex-chefe da Renault-Nissan julgados por corrupção

Os juízes de instrução em Paris ordenaram hoje um julgamento, que promete ser mediático, contra a ministra da Cultura, Rachida Dati, e o antigo dirigente da Renault-Nissan Carlos Ghosn, por corrupção e tráfico de influências.

Rachida Datis

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Lusa
22/07/2025 19:47 ‧ há 3 dias por Lusa

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Ambos os arguidos contestam as acusações neste processo que está a ser investigado desde 2019 em Paris e que tem implicações significativas para a política francesa.

 

Rachida Dati, ex-ministra da Justiça e atual ministra da Cultura, de 59 anos, é uma das figuras de peso do Governo do primeiro-ministro, François Bayrou, e uma potencial candidata da direita para conquistar à esquerda a câmara municipal de Paris, onde já é presidente do elegante 7.º bairro (arrondissement).

"Vamos recorrer desta decisão ainda hoje", declararam os advogados da ministra, que já tinham tentado, sem sucesso, invocar a prescrição do processo.

O julgamento poderá, no entanto, realizar-se depois das eleições autárquicas francesas, previstas para março de 2026, disse uma fonte judicial citada pela agência de notícias France-Presse. A data concreta deverá ser fixada numa primeira audiência marcada para 29 de setembro.

Rachida Dati "continua a exercer as funções no Governo", indicou o círculo próximo do Presidente francês, Emmanuel Macron.

Dati, que considera os factos prescritos e multiplicou, sem êxito, os recursos para pôr fim ao processo, foi formalmente acusada em julho de 2021. A política é conhecida pelo discurso direto e pela ousadia, tendo sido ministra pela primeira vez durante a Presidência de Nicolas Sarkozy (2007-2012).

Os juízes ordenaram assim um julgamento contra Dati por ocultação de abuso de poder e de confiança, corrupção e tráfico de influências passivo por pessoa com mandato eletivo público numa organização internacional, neste caso enquanto deputada no Parlamento Europeu (PE).

Concretamente, é suspeita de ter recebido 900.000 euros entre 2010 e 2012 por serviços de consultoria descritos num contrato de honorários assinado a 28 de outubro de 2009 com a RNBV, uma subsidiária da Renault-Nissan, então dirigida por Carlos Ghosn, mas sem ter realmente prestado trabalho.

As investigações também procuraram determinar se este contrato teria servido para esconder uma atividade de 'lobbying' no PE, proibida a qualquer eleito.

Além disso, Dati foi acusada no início de junho pela revista francesa Nouvel Obs e por um programa de investigação do canal France 2 de ter recebido 299.000 euros do grupo GDF Suez enquanto era eurodeputada, sem declarar a origem do montante ao PE.

A atual ministra da Cultura rejeitou estas acusações, que considerou difamatórias.

O jornal francês Libération afirmou, em meados de abril, que Dati omitiu 420.000 euros em joias na declaração de património, ao que a ministra respondeu que não tem "nada a regularizar".

Já Carlos Ghosn, de 71 anos, foragido no Líbano desde o final de 2019, é alvo desde abril de 2023 de um mandado de captura internacional neste processo, e será julgado por abuso de poder enquanto dirigente empresarial, abuso de confiança, corrupção e tráfico de influências ativo.

Enquanto assistente civil do processo, a Renault não quis comentar nesta fase. 

Com nacionalidades libanesa, francesa e brasileira, Carlos Ghosn foi detido no final de 2018 no Japão, de onde fugiu pelo aeroporto escondido numa caixa de equipamento de som, antes de ser julgado por alegadas irregularidades financeiras enquanto liderava a Renault-Nissan.

Desde 2022, é também alvo de outro mandado de captura, no âmbito de investigações de grande escala ainda em curso em Nanterre, perto de Paris, nomeadamente por abuso de bens sociais e branqueamento de capitais em organização criminosa, em ligação com o distribuidor automóvel de Omã Suhail Bahwan Automobiles.

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