Na quinta-feira, os manifestantes compareceram a eventos em várias zonas do condado de Los Angeles, desde a baixa, onde em junho houve confrontos por causa das rusgas de imigração, até Burbank, Culver City, Glendale, West Hollywood ou Pasadena.
"Não consigo dormir à noite", disse à Lusa a norte-americana Jan, de 84 anos, que compareceu ao protesto em Burbank com a família. "Nunca pensei que iria ver isto. A perda do nosso país para alguém que está a destruir a nossa constituição e o mundo", afirmou.
Jan disse temer que Trump cancele as próximas eleições e declare lei marcial, apontando para a ineficácia dos tribunais em conter as decisões do governante. "É importante estarmos aqui. O que mais podemos fazer?" questionou.
A luta nacional foi marcada para o dia do quinto aniversário da morte do congressista John Lewis (1940-2020), histórico democrata que lutou pelos direitos civis nos anos 60 do século XX e que os ativistas quiseram homenagear.
Foi por isso que Randy Silverston esteve no protesto, apesar de a idade já lhe dar problemas de locomoção. Quis lembrar o congressista, que conheceu numa campanha de registo de eleitores em estados do sul -- Alabama, Geórgia e Mississípi. "Ele era um amigo", disse à Lusa.
John Lewis era também um ativista que se destacou pela ênfase nos protestos não violentos, tendo sido preso mais de 40 vezes durante o movimento pelos direitos civis.
Muitos dos que protestaram em Burbank, cidade no vale de São Fernando onde está sediada a empresa de entretenimento Warner Bros, empunhavam cartazes recordando a expressão "good trouble", que John Lewis usava para descrever ações que causam "bons problemas", de forma a conseguir um resultado positivo.
"A resistência é um bom problema", dizia o cartaz de Cherie S., uma ativista ligada ao grupo 'Civic Sundays' (Domingos Cívicos) que também saiu à rua. "As pessoas estão zangadas. Isto permeou a barreira até mesmo daqueles que antes não se importavam", sublinhou.
As causas mais referidas pelos manifestantes foram as rusgas das autoridades de imigração e a postura autoritária da Casa Branca, mas também houve referências à Rússia e à polémica em torno de Jeffrey Epstein, o milionário que morreu por suicídio em 2019 quando aguardava julgamento pelo abuso sexual de menores.
"Merecemos melhor", dizia o cartaz de um jovem sentado na relva. Outros cartazes pediam "Fim ao fascismo", "Resistam" e "Mantenham os imigrantes, deportem o Trump", enquanto carros buzinavam em sinal de apoio ao passar pelo local.
Para Denise Novak, foi o quinto protesto desde o início do ano. "Odeio este homem", disse à Lusa, em referência a Trump. "Tenho amigos em todo o mundo e todos me perguntam o que é que a América estava a pensar quando o elegeu", lamentou.
Organizado pelos grupos Transformative Justice Coalition, Black Voters Matter, Indivisible, Declaration For American Democracy e Public Citizen, o protesto foi nacional e passou por mais de 1.500 comunidades nos 50 estados do país.
No sábado, haverá nova marcha em West Hollywood, organizada pelo grupo Indivisible e sob o mote 'No Kings March', uma sequência ao 'Dia Sem Rei' que reuniu milhões de manifestantes a 14 de junho.
Los Angeles foi o epicentro da resistência a Trump no último mês, com manifestações concentradas na baixa que levaram o Presidente a mobilizar quatro mil militares da Guarda Nacional contra a vontade do governador da Califórnia, Gavin Newsom.
Pelo menos metade dos militares desmobilizou esta semana por ordem do Presidente, numa altura em que as rusgas de imigração continuam, mas a estratégia dos manifestantes mudou para ações de ajuda à comunidade imigrante.
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