O relatório anual do Ministério da Defesa japonês, entregue ao Executivo do país, destaca ainda a crescente cooperação militar entre a China e a Rússia, o aumento das tensões em torno de Taiwan e as ameaças vindas da Coreia do Norte como sérias preocupações para Tóquio.
"A sociedade internacional vive uma nova era de crise, enfrentando os maiores desafios desde o fim da Segunda Guerra Mundial", refere o relatório de 534 páginas, que alerta para alterações profundas no equilíbrio global de poder e uma possível escalada na rivalidade entre a China e os Estados Unidos.
As ameaças à segurança concentram-se na região do Indo-Pacífico, onde o Japão está inserido, e poderão agravar-se nos próximos anos, acrescenta o texto.
Face ao receio de um eventual conflito em Taiwan -- que a China considera parte do seu território e ameaça anexar pela força, se necessário --, o Japão tem vindo a acelerar o reforço militar nas ilhas do sudoeste, incluindo a preparação para o destacamento de mísseis de cruzeiro de longo alcance.
Taiwan iniciou na semana passada manobras militares anuais de dez dias, com fogo real, em resposta à ameaça chinesa, enquanto o Japão testou no mês passado um míssil antinavio de curto alcance.
De acordo com o relatório, a presença de navios de guerra chineses no Pacífico tem aumentado de forma constante, com a frequência de passagens ao largo do sudoeste japonês a triplicar nos últimos três anos, incluindo nas águas entre Taiwan e a ilha japonesa de Yonaguni.
A publicação do documento ocorre dias depois de o Japão ter exigido à China que suspenda os voos de caças em "proximidade anormal" de aeronaves japonesas de reconhecimento, alertando para o risco de embate. Pequim respondeu acusando Tóquio de realizar voos de espionagem nas imediações do espaço aéreo chinês.
O relatório cita ainda dois incidentes ocorridos em junho, quando Tóquio detetou pela primeira vez dois porta-aviões chineses a operar em conjunto sobre o Pacífico.
O aumento da frequência de envio de porta-aviões e bombardeiros chineses para missões de longo alcance no Pacífico é, segundo o Ministério da Defesa japonês, uma tentativa de Pequim de projetar poder naval em águas distantes e reforçar a sua capacidade operacional em redor do Japão.
Em 2024, foram registadas duas incursões significativas: uma breve violação do espaço aéreo japonês por um avião militar chinês, ao largo de ilhas próximas de Nagasaki, e a entrada de um porta-aviões numa zona contígua ao sudoeste do arquipélago de Nansei, entre Kyushu e Taiwan.
Com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, focado no reforço da segurança e economia interna, o relatório aponta que o Japão e outros aliados norte-americanos enfrentam agora maiores expectativas no que toca à estabilidade e à paz regional.
A Coreia do Norte continua a ser considerada "uma ameaça cada vez mais grave e iminente" para a segurança do Japão, devido ao desenvolvimento de mísseis com capacidade para transportar ogivas nucleares até território japonês e de mísseis balísticos intercontinentais de combustível sólido, capazes de atingir o território continental dos EUA.
O relatório refere ainda que a Rússia mantém operações militares ativas nas imediações do Japão, incluindo a violação do espaço aéreo japonês em setembro passado, e sublinha que a crescente cooperação estratégica entre Moscovo e Pequim constitui "forte motivo de preocupação" para Tóquio.
Leia Também: Japão inaugura base de helicópteros Osprey face à pressão da China