A relatora das Nações Unidas contou em entrevista ao jornal italiano La Repubblica que redigiu seis relatórios oficiais referindo a necessidade de investigar crimes como a "detenção arbitrária, o tratamento de menores, o genocídio" e apelando ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para apurar responsabilidades.
Por outro lado, adiantou que os Estados Unidos, neste momento, são um país "alérgico à justiça" e, por isso, impuseram sanções contra o TPI, ou contra qualquer pessoa que tente fazer cumprir a lei, recorrendo a "técnicas de intimidação que fazem lembrar a máfia", acusou Albanese.
Na mesma entrevista, a relatora das Nações Unidas criticou diretamente as sanções que lhe foram impostas pela Administração norte-americana que considerou "intimidação" pelas posições que tem demonstrado sobre a situação na Faixa de Gaza.
"Querem intimidar-me a mim e a qualquer outra pessoa que tente dizer a verdade sobre o genocídio em curso em Gaza, utilizando métodos que fazem lembrar os utilizados pela máfia. Mas não vão conseguir, vou continuar a fazer o meu trabalho de cabeça erguida, exigindo a intervenção do TPI", disse.
A jurista italiana e relatora da ONU para a Palestina, disse ainda que o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu deve ser julgado pelo TPI.
No último relatório sobre a situação em Gaza, Francesca Albanese referiu que 45 empresas privadas obtêm lucros à custa da destruição de vidas inocentes, entre as quais as companhias norte-americanas Google, Microsoft, Amazon e IBM.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmou que Albanese não tem aptidão para desempenhar o cargo de relatora especial porque expressou "antissemitismo, apoio ao terrorismo e desprezo pelos Estados Unidos, Israel e pelo Ocidente".
Rubio anunciou as sanções norte-americanas contra a relatora esta semana.
As Nações Unidas consideraram que a medida provoca um precedente "perigoso".
A organização não-governamental Amnistia Internacional considerou vergonhosa e vingativa a aplicação de sanções contra Francesca Albanesa.
Em Itália, uma petição através da internet de apoio à relatora obteve 15 mil assinaturas em apenas duas horas, segundo os promotores.
Os peticionários pedem que seja garantida a proteção diplomática da relatora da ONU e que o nome de Albanese seja apresentado oficialmente como candidata ao Prémio Nobel da Paz.
Albanese espera o envolvimento do TPI e das instituições internacionais porque, explicou, os setores envolvidos, como a indústria militar, a alta finança e a tecnologia e que são demasiado "poderosos" para os sistemas judiciais nacionais.
A relatora afirmou ainda que as sanções vão ter reflexos pessoais mas acrescentou que está protegida pela imunidade diplomática da Nações Unidas, ao contrário da população do enclave palestiniano.
"As pessoas em Gaza morrem de fome, de miséria ou debaixo de bombas", disse Albanese recordando que no enclave foram mortas 60 mil pessoas, entre as quais 18 mil crianças.
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