"Recebemos informações ontem [segunda-feira] à noite de que o 'Eternity' tinha sido atacado novamente (...) causando a morte de dois marinheiros", disse um representante da Libéria, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
O "MV Eternity C", com pavilhão da Libéria, foi atacado na segunda-feira, um dia depois de um ataque reivindicado pelos rebeldes huthis do Iémen a outro navio de carga, o "Magic Seas".
Os rebeldes afundaram o "Magic Seas", mas a tripulação foi resgatada pelos Emirados Árabes Unidos, disse o Estado do Golfo.
O ataque de segunda-feira, que até agora não foi reivindicado, ocorreu a sudoeste da cidade portuária iemenita de Hodeida, uma das zonas mais estratégicas sob o controlo dos rebeldes do Iémen.
The Eternity C was attacked yesterday , following the sinking of the Magic Seas and reportedly also casualties.
— Ami Daniel (@AmiDaniel1) July 8, 2025
This is a new policy by the Houthis who announced they will be attacking any vessel which had its sister vessels (i.e. vessels managed by the same company) visit or… pic.twitter.com/GvTlQqdFZC
Os dois ataques sucessivos aumentaram os receios de que os rebeldes apoiados pelo Irão retomem a campanha contra os navios ao largo da costa do Iémen, apesar de um acordo de cessar-fogo com os Estados Unidos, de maio.
Desde o final de 2023, os huthis atacaram dezenas de navios que acreditam estar ligados a Israel.
Também visaram navios norte-americanos, alegando estar a agir em solidariedade com os palestinianos na Faixa de Gaza, que se encontra há 21 meses em guerra entre Israel e o Hamas.
Segundo a Câmara Internacional de Navegação, estas ações levaram muitos armadores a evitar a zona, que movimenta 12% do comércio mundial.
Antes do anúncio da morte dos dois marinheiros, a agência de segurança marítima britânica Ambrey tinha indicado que dois membros da tripulação do "MV Eternity C" estavam feridos e dois tinham desaparecido.
Não se sabe se as duas mortes estão incluídas nestes números.
O secretário do Departamento de Trabalhadores Migrantes das Filipinas, Hans Cacdac, disse que 21 dos 22 membros da tripulação eram filipinos.
O analista da Basha Report Risk Advisory Mohammed Albasha considerou que os rebeldes podem estar a tentar confirmar a capacidade de ação, após a guerra de 12 dias de Israel contra o Irão, à qual os Estados Unidos se juntaram.
"Este ataque pode ser uma mensagem subtil para Washington e Telavive de que os grupos aliados do Irão continuam ativos e capazes", afirmou o analista da empresa com sede nos Estados Unidos.
"A mensagem é clara: os huthis ainda têm a capacidade de perturbar e estão a escolher cuidadosamente quando agir", acrescentou.
Em represália aos ataques dos huthis, Israel bombardeou várias instalações dos rebeldes no Iémen, incluindo o porto de Hodeida e arredores, que foram novamente alvo de ataques no domingo e na madrugada segunda-feira.
Os rebeldes disseram na segunda-feira ter retaliado com o disparo de mísseis contra Israel, o que foi confirmado pelo exército israelita, que detetou dois projéteis disparados do Iémen.
Para a investigadora iemenita Nadwa Dawsari, do Middle East Institute, os ataques dos rebeldes vão além da simples solidariedade com os palestinianos em Gaza.
"Estes ataques reforçam a estatura regional, alimentam a sua narrativa e servem o objetivo de se tornarem o novo líder do 'Eixo da Resistência'", uma aliança informal de grupos armados hostis a Israel, afirmou.
Ao mesmo tempo, "consolidam a agenda regional mais vasta do Irão", acrescentou, numa mensagem nas redes sociais citada pela AFP.
Em maio, os rebeldes, que controlam a capital Saná e vastas áreas do Iémen, um país em guerra desde 2014, avisaram que iam continuar a atacar navios israelitas ou ligados a Israel, apesar das tréguas com os Estados Unidos.
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