A BBC admitiu, esta quinta-feira, ter cometido vários “erros” no que diz respeito à transmissão do concerto da dupla de punk rap Bob Vylan, que clamou “morte, morte às IDF [Forças de Defesa de Israel]”, durante a atuação no palco West Holts do Festival de Glastonbury, a 28 de junho. A televisão britânica anunciou, por isso, que deixará de transmitir todas as atuações que sejam consideradas “de alto risco”.
A BBC detalhou que a atuação da dupla foi considerada “de alto risco, na sequência de um processo de avaliação de risco aplicado a todos os artistas que se apresentam em Glastonbury”, num comunicado hoje emitido.
“Sete artistas, incluindo Bob Vylan, foram incluídos nesta categoria e todos eles foram considerados adequados para a transmissão em direto com as medidas de mitigação adequadas. Antes de Glastonbury, foi decidido que os riscos de conformidade poderiam ser atenuados em tempo real na transmissão em direto - através da utilização de avisos de linguagem ou de conteúdo - sem necessidade de atrasos. Não foi claramente esse o caso”, apontou.
E complementou: “Durante a atuação, a transmissão em direto foi monitorizada de acordo com os protocolos de conformidade acordados e foram escalados vários problemas. Em duas ocasiões apareceram avisos na transmissão e a equipa editorial tomou a decisão de não cortar a transmissão. Tratou-se de um erro.”
O canal de televisão britânico indicou que “o diretor-geral foi posteriormente informado do que tinha acontecido e deu instruções à equipa para que nenhuma parte da atuação fosse transmitida”. A equipa priorizou também “impedir que a atuação fosse exibida online”, o que significava que “não havia downloads do espetáculo de Bob Vylan disponíveis no iPlayer ou no Sounds”.
“No entanto, a transmissão em direto, que mostrava as atuações subsequentes de outros artistas no mesmo palco de Glastonbury, manteve-se até ser alterada pouco depois das 20h00, enquanto as equipas trabalhavam numa solução técnica. Dadas as falhas que foram reconhecidas, estamos a tomar medidas para garantir a devida responsabilização das pessoas consideradas responsáveis por essas falhas na transmissão em direto. De momento, não faremos mais comentários sobre estes processos”, disse.
Nessa linha, a BBC elencou que, a partir de agora, “todos os espetáculos musicais considerados de alto risco deixarão de ser transmitidos em direto ou em streaming”. Além disso, “o apoio da Política Editorial estará sempre disponível no local dos principais festivais e eventos musicais, para melhorar os processos de conformidade e a rapidez do aconselhamento disponível”, e o canal fornecerá “orientações práticas mais pormenorizadas sobre o limiar para retirar uma transmissão em direto”.
“Lamentamos profundamente que um comportamento tão ofensivo e deplorável tenha ocorrido na BBC e queremos pedir desculpa aos nossos telespectadores e ouvintes e, em particular, à comunidade judaica. Somos também inequívocos quanto ao facto de não haver lugar para o antissemitismo na BBC. É evidente que foram cometidos erros tanto no período que antecedeu o concerto de Bob Vylan, como durante o mesmo”, disse ainda.
Saliente-se que a dupla rejeitou ser “favor da morte de judeus, árabes ou qualquer outra raça ou grupo de pessoas”, defendendo, ao invés, o “desmantelamento de uma máquina militar violenta”.
Silence is not an option. pic.twitter.com/i5ubnDntUo
— Bob Vylan (@BobbyVylan) July 1, 2025
“Não somos a história. Somos uma distração da história. E quaisquer sanções que recebamos serão uma distração. O governo não quer que perguntemos por que razão se mantém em silêncio perante esta atrocidade? Que perguntemos porque não fazem mais para parar a matança? Para alimentar os famintos?", questionou, em comunicado.
A Polícia de Avon e Somerset disse, na segunda-feira, estar a investigar os comentários feitos em palco tanto pelos Bob Vylan, como pelos Kneecap, que acusaram Israel de ser um Estado "criminoso de guerra" e exortaram a multidão a repetir insultos contra o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
Também a Polícia Metropolitana de Londres lançou uma investigação, depois de a dupla ter alegadamente apelado à “morte de todos os soldados das IDF”, num concerto um mês antes de Glastonbury.
Entretanto, os Estados Unidos revogaram os vistos aos membros dos Bob Vylan, "devido às frases de ódio em Glastonbury, incluindo terem incitado a multidão a cantar músicas de morte".
Leia Também: Aberta investigação a comentários de "rappers" contra Israel em festival