Um ativista dos direitos humanos português entrou hoje no terceiro dia de uma greve de fome por tempo indeterminado para pressionar o Governo português a reconhecer a Palestina como Estado e ajudar a pôr termo ao que considera um genocídio.
Em declarações à agência Lusa, Nuno Gomes, 57 anos, camionista de pesados nos transportes internacionais, encontra-se ora em frente ora no jardim lateral da Assembleia da República (Parlamento) desde terça-feira, em Lisboa.
"As razões [da greve de fome] passam por denunciar o genocídio que está a acontecer em Gaza, que não é noticiado devidamente em Portugal. Não é uma guerra que está a acontecer em Gaza, não é um conflito que está a acontecer em Gaza, é um genocídio", sublinhou Nuno Gomes, natural de Lisboa e residente em Coimbra.
Para o ativista, que tem estado acompanhado pela mulher e pelos dois filhos, bem como por diversos amigos e ativistas, o governo português recusa-se a reconhecer o Estado da Palestina, "mas tem de forçar a ação de entrada de ajuda humanitária com caráter urgente em Gaza".
Exige também a entrada de ajuda humanitária em Gaza e que as televisões generalistas portuguesas mostrem a "realidade do genocídio" nos territórios palestinianos perpetrado por Israel.
"O terceiro aspeto, é a parte da comunicação social, que é muito permissiva também nestes assuntos, e que continua a não mencionar com a frequência que deveria que o que está a acontecer em Gaza é um genocídio, não é uma guerra, não é um conflito, é um genocídio", insistiu.
Questionado pela Lusa sobre o facto de o Governo português não reconhecer o Estado da Palestina, Nuno Gomes, que está a fazer a greve de fome no período de férias do trabalho, respondeu que o vê com "uma grande revolta".
"É por isso que entro depois nesta ação. Já foi aprovado no Parlamento o reconhecimento do Estado da Palestina, e não é posto em prática. O Governo tem de agir. Não podemos andar a enganar os portugueses assim desta forma. O Estado da Palestina tem o direito a ser reconhecido de acordo com o direito internacional, e o Governo português tem a obrigação de o fazer, até porque tem na Constituição da República que diz no artigo 7 que tem de o fazer", acrescentou.
Sobre quanto tempo irá prosseguir com a greve de fome, Nuno Gomes explicou que vai durar "até que o governo reconheça o Estado da Palestina, até que a ajuda humanitária entre em Gaza, e até que as televisões também do 'mainstream', RTP, SIC, TVI, comecem a dar as notícias de forma devida que não estão a fazê-lo".
Se nenhuma das três reivindicações for atendida, Nuno Gomes disse que irá, mesmo assim, continuar com a greve de fome.
"Propus-me a fazer esta greve por tempo indeterminado, e só saio daqui quando eles pararem, quando eles efetuarem aquilo a que eu me propus. É claro que corremos riscos pelo facto de estarmos vivos. Uma greve de fome por tempo indeterminado pode provocar a morte, é correto", admitiu, desdramatizando, porém, a situação.
"Mas é assim, nós temos de fazer algo, nós temos de fazer algo em prol da causa, pois é um genocídio que está em causa, e são crianças que estão em causa, e não acho que seja preocupante do meu lado agora, estar a pensar numa coisa que eu não sei se vai acontecer ou se não vai acontecer. O foco desta luta que estou aqui a fazer, são as crianças que estão a ser assassinadas em Gaza, e é nisso que eu me vou focar, e não vou tirar o meu foco daí", concluiu.
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