A manifestação, que decorreu sob mais de 40 graus, foi convocada por Organizações Não Governamentais (ONG) que estão em Sevilha para participar também na conferência das Nações Unidas e em centenas de eventos paralelos.
No arranque do protesto, a representante das Organizações Para o Desenvolvimento de Espanha, Isabel Miguel Emperador, disse aos jornalistas que "o sistema económico mundial é injusto", assim como "as regras que regulam esse sistema e que não respondem às necessidades das pessoas e do planeta".
"Precisamos de um sistema económico global democrático, inclusivo e que proteja direitos das pessoas e que proteja o planeta", acrescentou.
Isabel Miguel Emperador, em linha com o que têm dito a generalidade das plataformas de ONG para o desenvolvimento, considerou que os resultados que se esperam desta conferência da ONU, que visa relançar a cooperação internacional e o financiamento para o desenvolvimento, "são pouco ambiciosos para responder às necessidades que existem neste momento".
AS ONG denunciam que o documento que vai ser subscrito pelos líderes presentes na conferência, conhecido como "Compromisso de Sevilha", ficou aquém das expectativas iniciais, com muitas das reivindicações dos países em desenvolvimento e mais vulneráveis a ficaram de fora do texto final.
Isabel Miguel Emperador disse que as ONG pedem "uma governança económica global justa e democrática, onde todos os países estejam representados", assim como "soluções para o problema da dívida [pública], que está realmente a afogar os países", e que "haja mudanças na cooperação internacional para o desenvolvimento".
"Também pedimos um financiamento feminista", que "sirva para garantir os direitos das mulheres, das meninas e das adolescentes", acrescentou.
Mais de 60 líderes mundiais e 4.000 representantes da sociedade civil reúnem-se a partir de hoje em Sevilha para tentar relançar a ajuda ao desenvolvimento, que tem atualmente um défice de quatro biliões de dólares anuais, segundo a ONU.
Será a 4.ª Conferência Internacional para o Financiamento ao Desenvolvimento (FFD4) da ONU, e decorre até quinta-feira, dez anos depois da anterior, na Etiópia, em 2015.
Segundo as contas da ONU, o défice atual na ajuda ao desenvolvimento é 1.500 mil milhões mais do que há dez anos e em 2024 a ajuda oficial ao desenvolvimento caiu pela primeira vez nos últimos seis anos, com previsão de nova queda de 20% para 2025.
Num mundo com mais conflitos bélicos e novas tensões e discursos geopolíticos, os recursos estão a ser desviados para orçamentos militares e de segurança, com especial impacto o corte das verbas para ajuda humanitária e a agências da ONU pelos Estados Unidos, desde que Donald Trump voltou à Presidência do país, que representava até ao ano passado 42% do total de doações.
Os EUA serão também o único país-membro da ONU ausente de Sevilha, depois de se terem retirado da negociação da declaração "Compromisso de Sevilha", embora não a tenham vetado exigindo uma votação.
Na declaração já negociada, a comunidade internacional assume compromissos para criar novos mecanismos de mobilização de ajuda ao desenvolvimento, de aplicação dos investimentos e de gestão das dívidas soberanas dos países mais vulneráveis ou em vias de desenvolvimento, reconhecida no documento como um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento sustentável.
Ao longo de 68 páginas, o 'Compromisso de Sevilha' enfatiza também que só o reforço do multilateralismo pode responder à necessidade urgente de erradicação da pobreza e enfrentar os impactos das alterações climáticas.
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