Seis cidadãos dos Estados Unidos foram detidos, na sexta-feira, na Coreia do Sul, depois de serem apanhados a tentar enviar arroz, bíblias, notas de um dólar e 'pen drives' para a Coreia do Norte.
Segundo adiantam as publicações norte-americanas, o grupo foi detido na ilha de Gwanghwa, quando estavam a postos para lançar os objetos ao mar - que, devido às marés, chegariam ao outro lado da península.
Na sua posse tinham 1.600 garrafas com arroz, bíblias em miniatura, notas de um dólar e várias 'pen drives', que as autoridades dizem desconhecer que materiais continham.
As autoridades sul-coreanas explicaram ainda que o grupo esperava que os objetos chegassem à Coreia do Norte devido às marés e que os seis norte-americanos estão agora a ser investigados por, alegadamente, terem violado a lei relativa à gestão da segurança e das catástrofes.
Os agentes que falaram às publicações fizeram-no sob condição de anonimato, já que não estão autorizados a falar sobre o caso - e não revelaram também quaisquer pormenores acerca da identidade do grupo.
A embaixada dos Estados Unidos na Coreia do Sul foi questionada acerca do assunto, mas não respondeu, de acordo com a ABC News.
Antes do arroz, os balões
Enviar objetos até à Coreia do Norte não é de agora, sendo mais do que uma troca e tratando-se de uma questão diplomática.
Note-se que, durante anos, ativistas tentaram fazer flutuar garrafas de plástico ou enviar balões ao longo das fronteiras, carregando estes objetos propaganda contra Pyongyang. Várias 'pen drives' carregaram também filmes e séries sul-coreanas, assim como músicas vinhas de Seul.
A prática foi depois proibida, devido à possibilidade de inflamar as tensões entre Seul e Pyongyang, já que este último território, liderado por Kim Jong-un começou a responder também com o envio de balões, nomeadamente, com lixo no seu interior.
Em 2023, o Tribunal Constitucional da Coreia do Sul anulou a controversa lei que criminalizava o envio de panfletos e outros artigos para a Coreia do Norte, considerando-a uma restrição excessiva à liberdade de expressão.
Mas desde que tomou posse, no início deste mês, o novo presidente sul coreano, Lee Jae Myung, está a fazer alguma pressão para reprimir estas campanhas, assim como a elaborar leis relacionadas com a segurança, com o objetivo de evitar a escala de tensão. No mesmo local onde este grupo de norte-americanos foram detidos, um ativista foi também apanhado pelas autoridades, no passado dia 14.
O novo presidente da Coreia do Sul prometeu também retomar as conversações com a Coreia do Norte, que há muito que estão 'adormecidas', e caminhar numa direção em que as duas Coreias estejam em paz. Lee suspendeu também as emissões de altifalantes de propaganda anti-Pyongyang na linha da frente para tentar aliviar as tensões militares. Desde então que as emissões norte-coreanas não são ouvidas nas cidades sul-coreanas da linha da frente.
Poucos dias depois de ter assumido o cargo, o novo presidente aproveitou por assinalar que a 'Declaração de 15 de Junho', em 2000, "foi o ponto de partida para derrubar os muros de confronto e desconfiança que duraram mais de meio século e inaugurar uma nova era de reconciliação e cooperação".
O documento "injetou esperança de paz na península e mostrou que a prosperidade partilhada entre o Norte e o Sul era possível", escreveu Lee, numa mensagem publicada na rede social Facebook.
O então presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, e o líder norte-coreano, Kim Jong-il (pai do atual líder, Kim Jong-un), assinaram a declaração após uma cimeira de três dias.
Um quarto de século depois, as relações entre as duas Coreias estão no seu pior momento desde o fim da Guerra da Coreia (1950-53).
Lee fez, a 15 de junho deste ano, um eco de regresso "a um período de frieza semelhante ao do passado", com a interrupção do diálogo e das trocas entre os dois países vizinhos, e apelou ao retomar da promessa de paz emanada daquela declaração.
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