Se em 2018, na cimeira de Bruxelas, Trump ameaçou sair da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) caso os restantes países não aumentassem o investimento em Defesa, nestes dois dias (hoje e terça-feira) na cidade de Haia, Países Baixos, os aliados juntaram-se com o objetivo de manter o republicano norte-americano do seu lado.
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, que em 2018 era primeiro-ministro dos Países Baixos e conseguiu, de acordo com relatos da imprensa internacional, acalmar Trump, fez de tudo em Haia para agradar ao líder norte-americano.
Em cima da mesa esteve a proposta de investir 5% do Produto Interno Bruto (PIB), dividido entre 3,5% para despesas puramente relacionadas com Defesa mais 1,5% adicionais em investimentos como infraestruturas e indústria.
Logo no primeiro dia da reunião de alto nível, que juntou líderes dos 32 países que compõem a organização político-militar, Rutte avisou os seus colegas europeus para que "não se preocupassem tanto" com os Estados Unidos (EUA) e investissem mais, um dia depois de ter rejeitado que os norte-americanos tivessem violado a lei internacional durante os bombardeamentos que visaram instalações nucleares iranianas.
Ainda antes de chegar à reunião em Haia, Donald Trump recusava dar apoio explícito ao artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte -- que define que um ataque a um aliado, é um ataque a todos --, afirmando que este artigo podia ter "várias interpretações". Já a bordo do avião presidencial Air Force One, o governante divulgou na sua plataforma Truth Social uma mensagem enviada por Mark Rutte, com elogios ao "grande sucesso" dos bombardeamentos dos norte-americanos no Irão e parabéns antecipados por "outro grande sucesso".
"A Europa vai pagar bem, como devem, e vai ser uma vitória tua", disse também Rutte a Trump.
Depois desta divulgação, cuja veracidade foi confirmada à Lusa por fonte da Aliança Atlântica, Mark Rutte disse aos jornalistas, em Haia, não ter "nenhum problema" com o facto de o norte-americano ter divulgado a mensagem e insistiu que sem os EUA os aliados nunca se teriam comprometido em aumentar o investimento em Defesa.
O palco estava montado para que Donald Trump brilhasse e assim foi. Na conferência de imprensa final, Rutte atribuiu ao Presidente norte-americano "todo o mérito" e Trump disse ter alcançado uma "grande vitória".
Rutte chegou mesmo a apelidar Trump de "daddy" ["papá"], quando o republicano comparou Israel e Irão a "duas crianças a lutar uma com a outra". Nesse momento, o político neerlandês comentou: "O papá tem de levantar a voz às vezes".
Espanha foi um dos países mais críticos da meta dos 5%, que classificou como "irracional", e o primeiro-ministro Pedro Sanchéz saiu de Haia a reiterar que 2,1% do PIB é um nível de gasto "suficiente e realista" para o seu país.
Na conferência de imprensa final, Trump ameaçou Madrid com tarifas, contudo, Espanha pertence à União Europeia, que a nível comercial funciona em bloco.
Com a tensão no Médio Oriente como pano de fundo, o conflito na Ucrânia perdeu algum protagonismo nesta cimeira, apesar de o Presidente Volodymyr Zelensky ter insistido nos apelos ao apoio a Kiev e Rutte ter garantido "que existe um caminho irreversível para a Ucrânia na adesão à NATO".
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, que chegou a Haia com o compromisso de atingir os 2% do PIB este ano, adiantou que Portugal terá que reforçar em cerca de mil milhões de euros a verba para a área da Defesa até ao final de 2025, e que tal será feito através de "valorização de recursos humanos", antecipação de algumas metas da Lei de Programação Militar (LPM) e investimento em infraestruturas.
O Governo está também a calcular que despesas já existentes pode reclassificar para incluir no bolo da NATO.
Montenegro, que admitiu que está em causa um objetivo difícil, estimou que, nos próximos quatro anos, Portugal andará "acima dos 2% do PIB" com uma "evolução gradual ascendente" para em 2029 estar em posição de poder cumprir os 3,5% em 2035.
Os aliados saem de Haia com uma revisão intercalar agendada para 2029, ano em que termina o segundo mandato presidencial de Donald Trump e que a Casa Branca terá um novo inquilino.
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