"O país continua refém de uma nova forma de colonização, o neocolonialismo. A liberdade conquistada com sangue e sacrifício foi rapidamente usurpada por uma elite que perpetua um regime de terror financeiro, político e social contra os próprios irmãos da mesma raça", escreveu hoje Venâncio Mondlane na sua página do Facebook.
Mondlane acrescenta que os libertadores de ontem tornaram-se hoje "piores colonizadores" e "insensíveis ao sofrimento do povo, intolerantes à crítica, e cada vez mais autoritários".
"A intolerância política alastra-se como um 'câncer' [cancro]: vozes divergentes silenciadas, opositores perseguidos até mesmo abatidos, e a liberdade de expressão reprimida em nome da estabilidade do regime", acusou.
Mondlane denuncia o encerramento de "dezenas de indústrias estratégicas" e mais outras "dúzias de fábricas que poderiam hoje estar a gerar milhares de empregos", posicionando o país como uma referência. Mas por outro lado, continua, "abriram-se fábricas de bebidas alcoólicas espirituosas", o que denota "falta de políticas económicas eficazes substituídas por um projeto de alienação partidária e empobrecimento social".
"Moçambique, volvidos cinco décadas, regrediu a um ponto alarmante: hospitais públicos usam papelão em substituição do gesso porque há escassez em unidades sanitárias; escolas são improvisadas sob árvores; professores, médicos e servidores públicos imploram pelo próprio salário e subsídio", denunciou.
Para o ex-candidato presidencial não existe independência quando as decisões soberanas "dependem da autorização ou financiamento do Ocidente" e o poder político interfere descaradamente no judicial e legislativo, "anulando qualquer esperança de equilíbrio democrático e justiça verdadeira".
"Hoje, mais do que nunca, é necessário repensar o significado de independência. Não basta a ausência do colono estrangeiro, é preciso erradicar o colonizador interno, restaurar a dignidade, a Justiça e o verdadeiro poder do povo", anotou.
Mondlane divulgou o texto na mesma altura em que o presidente moçambicano, Daniel Chapo, fazia o seu discurso relativo à independência nacional, no agora Estádio da Independência Nacional (antigo Estádio da Machava).
Moçambique celebra hoje os 50 anos de independência, com a cerimónia principal a decorrer em Maputo, com a presença de vários chefes de Estado, incluindo o de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, da Tanzânia, Samia Suhulu (convidada de honra), da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa.
As cerimónias centrais decorrem no histórico Estádio da Independência Nacional, onde o primeiro Presidente do país, Samora Machel, proclamou a independência às primeiras horas de 25 de junho de 1975, após uma luta contra o regime colonial português que começou em 25 de setembro de 1964.
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