Um bombista suicida fez-se explodir, este domingo, na igreja de Mar Elias, no bairro de Dweila, em Damasco, na Síria, provocando pelo menos 20 mortos.
A informação foi confirmada por fontes de segurança, citadas pela Reuters. Trata-se do primeiro atentado deste tipo na capital da Síria desde que uma coligação liderada pelo grupo radical islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS) derrubou o regime do antigo presidente Bashar al-Assad, em 08 de dezembro. Desde então, a segurança continua a ser um dos maiores desafios para as novas autoridades sírias.
O Ministério do Interior da Síria disse que o bombista suicida era um membro do Estado Islâmico. O homem entrou na igreja, abriu fogo e depois detonou um colete explosivo.
Uma fonte de segurança, que falou à agência sob anonimato, disse que outro homem também esteve envolvido no ataque.
A explosão ocorreu no momento em que fiéis rezavam dentro da Igreja Mar Elias. A agência noticiosa estatal da Síria citou o Ministério da Saúde, que adiantou que 52 pessoas também ficaram feridas.
Um homem no exterior da igreja disse à AFP que "alguém entrou com uma arma" e abriu fogo, acrescentando que as pessoas "tentaram impedi-lo antes de se fazer explodir".
Um homem de 40 anos chamado Ziad, que estava numa loja em frente à igreja, disse ter ouvido tiros e depois uma explosão. "Vimos fogo na igreja e pedaços de bancos de madeira a serem atirados para a entrada", acrescentou.
O ministro da Informação sírio, Hamza Mostafa, condenou o atentando. "Este ato cobarde vai contra os valores cívicos que nos unem", escreveu no X (antigo Twitter). "Reafirmamos o compromisso do Estado de envidar todos os seus esforços para combater organizações criminosas e proteger a sociedade de todos os ataques que ameacem sua segurança", acrescentou.
Já o Ministério dos Negócios Estrangeiro grego divulgou um comunicado no qual condena "inequivocamente o abominável atentado terrorista suicida na Igreja Ortodoxa Grega de Mar Elias, em Damasco, na Síria".
"Exigimos que as autoridades sírias de transição tomem medidas imediatas para responsabilizar os envolvidos e implementem medidas para garantir a segurança das comunidades cristãs e de todos os grupos religiosos, permitindo-lhes viver sem medo", lê-se.
Para o local foram mobilizadas forças de seguranças e socorristas. As imagens mostram a igreja coberta de escombros e sangue. Pode ver as imagens do local do ataque na fotogaleria acima.
França também já condenou o ataque, classificando-o como um "desprezível atentado terrorista" e reiterou "o seu empenhamento numa transição na Síria que permita aos homens e mulheres sírios, independentemente da sua fé, viver em paz e segurança numa Síria livre, unida, plural, próspera, estável e soberana", segundo um comunicado do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.
Também o enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Síria manifestou-se "indignado" com o ataque, apelando a uma investigação exaustiva por parte das autoridades sírias, que apontam o dedo ao grupo 'jihadista' Estado Islâmico. Geir Pedersen "condena da forma mais veemente possível o ataque terrorista contra a Igreja de Santo Elias" e "expressa a sua indignação perante este crime hediondo", segundo um comunicado, citado pelas agências internacionais.
O presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, que liderou a ofensiva contra Assad, tem afirmado repetidamente que protegerá as minorias religiosas.
Este mês, a Síria assinalou meio ano desde a queda do regime de Bashar al-Assad, tendo conseguido que a comunidade internacional levantasse a maioria das sanções que travavam a sua recuperação. No entanto, ainda resta muito por fazer no quadro de uma transição que se estima durar pelo menos cinco anos.
A 08 de dezembro de 2024, após quase 14 anos de guerra civil, uma ofensiva relâmpago de grupos islamitas e da oposição surpreendeu o mundo ao pôr fim, em poucas semanas, a mais de meio século de domínio da família al-Assad, que governava o país desde Hafez al-Assad e, desde 2000, o seu filho Bashar.
Sob as novas autoridades, ligadas à maioria muçulmana sunita, a Síria registou episódios de violência sectária, como o que, em março, causou centenas de mortos entre a minoria alauita, à qual pertencia al-Assad, ou o que, em maio, fez dezenas de vítimas entre os drusos.
Quanto aos curdos sírios, que lideram uma autoproclamada administração autónoma no nordeste do país, foi alcançado em março um acordo com o Governo central para ultrapassar divisões e trabalhar na sua integração no novo Estado sírio, ainda com muito por concretizar.
Enquanto Damasco procura entendimentos com as várias minorias e Israel tenta semear a discórdia entre elas, a comunidade internacional manifesta preocupação com o futuro do grupo jihadista Estado Islâmico, ainda ativo no vasto deserto sírio e, há muito, transformado de aliado em inimigo de al-Sharaa.
[Notícia atualizada às 21h09]
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