"Em toda a África, a crescente ameaça da seca e o avanço implacável da desertificação estão a colocar milhões de pessoas em risco", alertou o chefe de Estado moçambicano, defendendo que é preciso "agir agora".
Falando durante uma conferência em formato virtual alusiva ao dia do combate à desertificação em África, Chapo salientou que "as soluções estão ao (...) alcance" do continente e reconheceu que a desertificação e a seca são desafios globais que afetam milhões de pessoas, sobretudo em África, "comprometendo a segurança alimentar, a disponibilidade de recursos hídricos e a sobrevivência da biodiversidade local".
"Países da África austral, como o Zimbabué, a Zâmbia, Malaui, Moçambique e África do Sul enfrentam frequentemente secas severas induzidas pelo fenómeno 'El Niño'. Paradoxalmente, países do Corno de África --- como a Etiópia, a Somália e o Quénia --- enfrentam secas severas há anos, onde se observa a ocorrência do fenómeno 'La Niña'", explicou.
Segundo Chapo, o 'El Niño', que atingiu o continente entre 2023 e 2024, provocou uma das secas "mais severas" das últimas décadas na África Austral: "Mais de 30 milhões de pessoas, em toda a região, foram afetadas, enfrentando fome aguda, desnutrição e necessidades humanitárias crescentes".
"Na região do Grande Corno de África, registaram-se as piores secas das últimas décadas, levando milhões de pessoas a enfrentar insegurança alimentar aguda, taxas elevadas de desnutrição --- especialmente entre as crianças --- e um aumento do risco de surtos de doenças como a cólera e o sarampo, devido ao acesso limitado à água potável", disse.
Chapo acrescentou que mais de 45% do território africano está afetado pela desertificação e mais de 65% das terras aráveis correm o risco de se tornarem desertos, o que pode levar a "consequências graves" como a insegurança alimentar, conflitos pelos recursos e deslocações massivas causadas pela fome e pela pobreza.
"Mas este não tem de ser o destino de África, ainda há esperança e um caminho a seguir (...), trabalhemos em conjunto. Unamo-nos para restaurar as terras de África e, com elas, abrir caminho para um futuro de dignidade, estabilidade e oportunidades para todos", frisou.
Para Daniel Chapo, entre as soluções para estas crises climáticas estão a agricultura climaticamente inteligente, os mecanismos inovadores de financiamento do risco de desastres, como os seguros soberanos e as ações antecipatórias à seca, além dos esforços de reflorestamento liderados pelas comunidades e as iniciativas em grande escala como "A Grande Muralha Verde", iniciativa que visa restaurar as paisagens no Sahel, região ao sul do deserto do Saara, e combater a desertificação e as mudanças climáticas.
"Cuidar do nosso continente e da sua biodiversidade pode contribuir significativamente para enfrentar a crise climática e impulsionar a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (...). Ao restaurarmos paisagens degradadas, podemos criar novos meios de subsistência para as comunidades rurais, reduzir o risco de migração forçada, revitalizar os ecossistemas e garantir a segurança alimentar a longo prazo", acrescentou.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.
Só entre dezembro e março, o país já foi atingido por três ciclones, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.
Os eventos extremos provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
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