Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU focada nos últimos desenvolvimentos políticos, de segurança e humanitários no Iraque, e na questão do desaparecimento de cidadãos kuwaitianos, o chefe da Unami, Mohamed al Hassan, indicou que a missão está a reduzir o seu efetivo e já fechou os escritórios de campo nas cidades de Mossul e Kirkuk.
"Encerrámos os escritórios da Unami em Mossul e Kirkuk e que estamos a reduzir gradualmente os nossos níveis de pessoal, procurando equilibrar a redução da missão com as nossas tarefas contínuas e isto, como sabem, num contexto de graves restrições financeiras que afetam as Nações Unidas no seu todo", explicou Hassan, frisando que faltam pouco mais de seis meses para o fim definitivo da Unami.
A Unami foi criada em 2003 pelo Conselho de Segurança da ONU, a pedido do Governo iraquiano, e atua como agente político especial para facilitar o diálogo político inclusivo, a reconciliação nacional, as eleições e os processos de reforma judicial no país.
Porém, em maio de 2024, o Governo iraquiano pediu ao secretário-geral da ONU, António Guterres, para que não prorrogasse o mandato da Unami para além da data acordada - 31 de dezembro de 2025 -, advogando que as circunstâncias que exigiram a criação da missão há mais de 20 anos "já não existem".
O encerramento de dois escritórios de campo, quando falta ainda cerca de meio ano para o fim do mandato, ocorre num momento em que a ONU enfrenta graves restrições orçamentais.
A ONU foi severamente afetada por cortes de financiamento do seu maior doador, os Estados Unidos, após a tomada de posse de Donald Trump como Presidente, em janeiro.
Nesse sentido, prepara-se para cortar no orçamento e em postos de trabalho, indicou no mês passado António Guterres.
Na reunião de hoje, Mohamed al Hassan abordou também a questão dos deslocados da minoria Yazidi, defendendo que o Governo iraquiano precisa de acelerar a adoção de um plano nacional que garanta uma solução duradoura e que o processo de retorno não seja apenas uma realocação física.
"Criar condições sustentáveis para os retornos exige medidas políticas, administrativas e de segurança mais coerentes, assim como investimentos significativos na criação de emprego e serviços locais. [...] Precisa de ser um processo significativo que reconstrua vidas, meios de subsistência e esperança para o futuro", frisou.
"Digo-o claramente: os Yazidis no Iraque foram gravemente prejudicados de uma forma indescritível pelo Daesh", acrescentou Hassan, instando o Iraque e Estados vizinhos a tomar todas as medidas necessárias para proteger esta população, dando-lhes "dignidade, apreço e estatuto humanitário", de forma a "pôr fim a esta injustiça" e "garantir o seu regresso a casa com dignidade e orgulho".
No ano passado, a Amnistia Internacional (AI) já tinha denunciado que milhares de membros da minoria Yazidi continuavam a sofrer violações, dez anos após os ataques do grupo Estado Islâmico (EI), os quais as Nações Unidas reconheceram já como um "genocídio".
Al Hassan atualizou igualmente o Conselho de Segurança sobre os esforços da Unami para facilitar a resolução de questões pendentes entre o Iraque e o Kuwait.
De acordo com o relatório da ONU, 315 kuwaitianos e cidadãos de países terceiros continuam desaparecidos, e a devolução dos arquivos nacionais e de outros bens kuwaitianos desaparecidos continua pendente.
O líder da Unami saudou o aumento das missões de campo e a utilização de tecnologias avançadas para identificar locais onde os corpos possam ter sido enterrados, mas advogou ser necessário redobrar estes esforços.
"É necessário reforçar a cooperação e a coordenação, incluindo na procura de testemunhas para encontrar os restos mortais das mais de 300 pessoas desaparecidas no Kuwait e dar uma resposta há muito esperada às suas famílias", disse.
Os esforços contínuos "para reconstruir a confiança entre os dois países irmãos são essenciais para construir um futuro mais estável e cooperativo", acrescentou.
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