"Trump voltou a confirmar que os norte-americanos não foram informados com antecedência", comentou Yuri Ushakov, conselheiro de Putin para assuntos internacionais, durante uma conferência de imprensa por telefone.
Ushakov descreveu a conversa telefónica como positiva e construtiva e disse que ambos os dirigentes concordaram continuar em contacto.
"Após a conversa, os dois líderes descreveram a troca de opiniões como positiva e bastante produtiva e confirmaram a sua disponibilidade para manter um contacto constante", observou o conselheiro diplomático russo.
Yuri Ushakov reconheceu que, durante a sua quarta conversa desde janeiro, Trump e Putin discutiram o ataque surpresa realizado no domingo contra bases estratégicas russas, mas não confirmou que o Presidente russo tenha anunciado que vai ripostar.
Pouco antes, o Presidente norte-americano tinha revelado que manteve uma conversa com Vladimir Putin, que lhe transmitiu "com muita veemência" que pretende responder aos recentes ataques ucranianos, e admitiu que este telefonema não vai levar "à paz imediata".
"Discutimos o ataque aos aviões russos estacionados [em aeródromos militares], por parte da Ucrânia, e também vários outros ataques que têm vindo a ocorrer de ambos os lados. Foi uma boa conversa, mas não uma conversa que conduza à paz imediata", indicou Donald Trump na sua rede Truth Social.
Segundo o líder da Casa Branca, durante a conversa de uma hora e 15 minutos, "Putin disse, e com muita veemência, que terá de ripostar ao recente ataque aos aeródromos" russos.
Segundo o conselheiro do Kremlin, Putin explicou os resultados da segunda ronda das negociações com a parte ucraniana, realizada na passada segunda-feira em Istambul, que descreveu como úteis, apesar dos ataques ocorridos na véspera.
"A Ucrânia tentou torpedear estas negociações, realizando, sob ordens diretas do regime de Kyiv, ataques contra alvos civis e a população civil", considerou.
O conselheiro russo referia-se aos descarrilamentos de dois comboios no passado fim de semana nas regiões fronteiriças de Bryansk e Kursk, que, segundo as autoridades, fizeram sete mortos e mais de 100 feridos, e ao ataque desta semana com drones submarinos à Ponte da Crimeia.
"Na nossa opinião, o regime de Kyiv degenerou essencialmente numa organização terrorista", sustentou, acrescentando que Moscovo "não caiu em provocações" e manteve a participação em Istambul.
Embora Putin tenha afirmado hoje que não tem qualquer intenção de negociar com terroristas, Ushakov explicou que isso não exclui a possibilidade de dialogar com Kyiv.
Na operação, com o nome "Spider's Web" ("Teia de Aranha"), 'drones' ucranianos lançados a partir de camiões dentro da Rússia atacaram cinco aeródromos militares, dois dos quais na Sibéria, que foi pela primeira vez alvo de ataques das forças de Kyiv.
O Ministério da Defesa russo admitiu que os 'drones' ucranianos conseguiram atingir os objetivos em Irkutsk e Murmansk.
A Ucrânia reclamou a destruição de um terço dos aviões militares da Rússia que integram um dos três elementos da estratégia nuclear de Moscovo, juntamente com os submarinos atómicos e os mísseis intercontinentais.
Do encontro na cidade turca, resultou um acordo para a troca de todos os prisioneiros até aos 25 anos, bem como de todos os doentes e gravemente feridos, além dos corpos de soldados em posse das partes.
A Rússia divulgou entretanto a sua proposta de paz, que inclui as suas exigências maximalistas de reconhecimento internacional sobre as quatro províncias que ocupa parcialmente na Ucrânia, além da Península da Crimeia, e a retirada das tropas ucranianas destes territórios antes de assinar um cessar-fogo.
Moscovo pretende também a rejeição dos planos de Kyiv de adesão à NATO e dos seus projetos de militarização.
A Ucrânia, por seu lado, recusa ceder a soberania sobre aqueles territórios e exige um cessar-fogo incondicional de 30 dias antes de avançar nas conversações.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, referiu-se hoje a "um ultimato" de Moscovo, e reiterou a proposta para um encontro tripartido de alto nível com Putin e Trump, porque o atual formato negocial já "não tem sentido".
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