ONU condena "escolha deliberada" de Israel de privar habitantes de Gaza

O subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários afirmou hoje que a morte, na terça-feira, de dezenas de palestinianos tentando alcançar um centro de distribuição de alimentos em Gaza são "resultado de escolhas deliberadas" de Israel.

subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Tom Fletcher

© Omar Havana/Getty Images

Lusa
04/06/2025 17:39 ‧ há 2 dias por Lusa

Mundo

Médio Oriente

"Só ontem (terça-feira), foram registadas dezenas de mortes em hospitais, depois de as forças israelitas terem anunciado que tinham aberto fogo. Este é o resultado de uma série de escolhas deliberadas que sistematicamente privaram dois milhões de pessoas dos bens essenciais à sua sobrevivência", escreveu este responsável da ONU, Tom Fletcher, num comunicado.

 

Os centros de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (FHG), apoiada pelos Estados Unidos e por Israel, foram hoje encerrados no território palestiniano, onde as estradas que conduzem aos locais de distribuição são "zonas de combate", advertiu o Exército israelita.

Este anúncio da FHG surge na sequência de uma série de incidentes mortais perto do pequeno número de locais de distribuição de ajuda humanitária que gere.

No sul da Faixa de Gaza, 27 pessoas foram mortas na terça-feira quando as tropas israelitas abriram fogo perto de um centro da FHG. O Exército disse que o incidente estava a ser investigado.

Segundo a mais recente contagem do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas e cujos dados a ONU considera fidedignos, o Exército israelita matou na terça-feira pelo menos 95 pessoas e feriu 440.

Esse número vem somar-se ao de mais 63 mortos e centenas de feridos registados nos três dias anteriores e que o Departamento da ONU para os Direitos Humanos assinalou.

"O mundo está a assistir, dia após dia, a cenas horríveis de palestinianos que são feridos ou mortos a tiro em Gaza quando tentam simplesmente alimentar-se", condenou.

Tom Fletcher, também responsável da ONU pela Coordenação de Ajuda de Emergência, fez eco do apelo do secretário-geral da organização, António Guterres, para que sejam efetuadas investigações independentes sobre estes incidentes mortais, a fim de que os culpados prestem contas na Justiça.

"Ninguém deveria ter de arriscar a vida para alimentar os seus filhos", insistiu Fletcher.

A FHG começou a 27 de maio a distribuir pacotes de alimentos a conta-gotas e só em locais considerados "seguros", mas a ONU e as principais organizações humanitárias recusam-se a cooperar com ela.

A ONU tem exigido repetidamente que Israel abra as passagens fronteiriças para o pequeno enclave palestiniano, para permitir a entrada de ajuda humanitária suficiente para satisfazer as necessidades de uma população faminta e traumatizada pela guerra.

"Temos de ser autorizados a fazer o nosso trabalho: temos as equipas, o plano, os abastecimentos e a experiência" para distribuir a ajuda, sublinhou Tom Fletcher.

"Abram todos os pontos de passagem. Deixem entrar a ajuda vital em grande escala (...). Levantem as restrições ao tipo e à quantidade de ajuda que podemos distribuir", exortou as autoridades israelitas.

"Assegurem que as nossas colunas não sofrem atrasos ou bloqueios. Libertem os reféns. Apliquem o cessar-fogo", acrescentou.

Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.

A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, mais de 54.600 mortos, na maioria civis, e quase 125.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais.

A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 02 de março, e durante quase três meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível.

A 30 de maio, o Departamento das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) considerou que Gaza é atualmente o lugar mais faminto do mundo, onde "100% da população corre o risco de morrer de fome".

Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza como estando mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.

Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciado, no início de maio, um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.

Leia Também: Israelitas marcham por três dias até Gaza para protestar contra a guerra

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