"Estou consternado com as notícias sobre palestinianos mortos e feridos ontem [domingo] enquanto procuravam ajuda em Gaza. É inaceitável que os palestinianos arrisquem as suas vidas para obter comida", afirmou António Guterres num comunicado, no qual defendeu que a investigação é necessária para que "os responsáveis sejam responsabilizados".
O secretário-geral das Nações Unidas lembrou que "Israel tem obrigações claras, nos termos do Direito Internacional Humanitário, no que diz respeito a aceitar e facilitar a entrega de ajuda humanitária".
Guterres salientou ainda que "deve ser imediatamente restabelecida a entrada sem entraves de assistência em grande escala para satisfazer as enormes necessidades em Gaza".
O antigo primeiro-ministro português afirmou ainda que "a ONU deve poder trabalhar em segurança e em condições de pleno respeito pelos princípios humanitários".
"Continuo a apelar a um cessar-fogo imediato, permanente e sustentável. Todos os reféns [detidos pelo Hamas] devem ser libertados imediatamente e sem condições. É a única forma de garantir a segurança de todos", argumentou, reiterando que "não há uma solução militar para o conflito".
As autoridades de Gaza, controladas pelo movimento islamita palestiniano Hamas, relataram no domingo 31 mortos e cerca de 200 feridos por tiros atribuídos às forças israelitas quando se dirigiam a um posto de distribuição de ajuda perto de Rafah (sul) gerido pela Fundação Humanitária para Gaza (GHF, pela sigla em inglês), a controversa organização de assistência concebida pelos Estados Unidos e Israel.
A fundação assegurou, por outro lado, que a ajuda foi distribuída "sem incidentes", enquanto o Exército de Israel negou que os seus soldados tenham aberto fogo contra os habitantes de Gaza dentro ou perto do ponto de distribuição de ajuda humanitária.
As forças israelitas reconheceram, no entanto, que foram disparados "tiros de advertência" a um quilómetro de distância, após a realização de uma investigação.
"As Forças de Defesa de Israel [FDI] não dispararam contra civis enquanto estes se encontravam perto ou dentro da zona de distribuição de ajuda humanitária. Essas informações são falsas", referiu o Exército.
As forças israelitas acusam o Hamas de "fazer tudo o que pode para impedir o sucesso da distribuição de alimentos em Gaza", antes de exortar os meios de comunicação social a "terem cuidado com as informações falsas publicadas" pelo Hamas "como já foi demonstrado em vários incidentes anteriores".
As organizações internacionais, como as Nações Unidas, têm alertado para a situação de fome que se vive em Gaza devido ao bloqueio imposto por Israel ao enclave palestiniano de 2,4 milhões de habitantes.
A guerra em curso foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo radical palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Das 251 pessoas raptadas na altura, 57 continuam detidas em Gaza, pelo menos 34 das quais mortas, segundo as autoridades israelitas.
A retaliação de Israel já provocou mais de 54.300 mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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