ONU alerta para pobreza no Ruanda, apesar dos avanços económicos

A ONU alertou hoje para a persistência da pobreza nas zonas rurais do Ruanda, apesar de assinalar que, entre 2017 e 2024, o país conseguiu retirar cerca de 1,5 milhões de pessoas daquela condição.

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© ANTHONY DEHEZ/BELGA MAG/AFP via Getty Images

Lusa
30/05/2025 17:27 ‧ ontem por Lusa

Mundo

Ruanda

O país é, muitas vezes, elogiado pelo "milagre" económico desde o genocídio tutsi de 1994, mas precisa de distribuir melhor a riqueza e o desenvolvimento entre a população, com os habitantes das zonas rurais a viverem ainda numa pobreza insondável, observou o relator da ONU para a pobreza extrema, Olivier De Schutter, em comunicado.

 

Embora a taxa tenha diminuído de 39,8% para 27,4% no período analisado, o relator sublinhou tratar-se de um fenómeno muito rural, com 80% dos ruandeses a viverem na pobreza nessas áreas, explicou Scutter.

O Ruanda, cuja economia está cada vez mais a investir no turismo, nas novas tecnologias e nos eventos, tem também taxas "muito elevadas" de subnutrição infantil nas zonas rurais, explicou.

Cerca de 23% da população ruandesa é considerada subnutrida, de acordo com o relatório de fim de missão sobre o Ruanda, publicado hoje pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

"Este milagre ruandês é uma realidade para uma parte da população, uma elite urbana maioritariamente anglófona que viu as suas oportunidades aumentarem e que está a beneficiar de forma espetacular deste progresso", salientou o relator das Nações Unidas.

Kigali anunciou que quer juntar-se ao clube dos países de renda média até 2035, mas "o país está a ter dificuldades para alcançar um crescimento inclusivo", já que a transformação da economia tende a "beneficiar os trabalhadores mais educados, o que aumenta a desigualdade", observou recentemente o Banco Mundial.

Só a capital contribui com 41% do PIB do país, segundo dados do Governo.

O Ruanda é governado por Paul Kagame desde 2000, ano em que este antigo chefe militar tutsi se tornou Presidente. Seis anos antes, o genocídio perpetrado pelo regime hutu no poder tinha provocado, segundo a ONU, cerca de 800 mil mortos entre abril e julho de 1994, onde a maioria das vítimas pertencia à minoria tutsi.

A Frente Patriótica Ruandesa (RPF) de Kagame, que pôs fim ao genocídio, tem desde então divulgado amplamente os seus êxitos sociais e económicos.

"Ainda há muito trabalho a fazer", segundo Olivier De Schutter, que sublinhou, nomeadamente, que cerca de 65% da população empregada na agricultura vive com meios de subsistência mínimos, que os centros de saúde carecem de médicos competentes e que, em muitas escolas, as turmas têm cerca de 60 alunos.

"A maior parte da população continua à espera de ver os resultados dos progressos que os números macroeconómicos revelam, mas que, na realidade, ainda não beneficiaram suficientemente a população rural", concluiu.

De acordo com o relatório do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, a economia do país cresceu cerca de 7,5% na última década e mais de 8% anualmente entre 2021 e 2024, um crescimento "largamente impulsionado por investimentos públicos substanciais".

Mas como esta estratégia "beneficiou principalmente uma pequena elite", "a ligação entre a expansão económica e a redução da pobreza enfraqueceu ao longo do tempo", sublinha-se ainda no relatório.

Neste contexto, com a dívida pública a atingir quase 80% do PIB do Ruanda em janeiro de 2025, o Governo comprometeu-se a fazer cortes orçamentais, apesar de Olivier De Schutter apontar que "o Ruanda não deve reduzir o seu défice à custa dos pobres".

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