Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU convocada pela Dinamarca, França, Grécia, Eslovénia e Reino Unido para uma atualização sobre os acontecimentos políticos e humanitários na Ucrânia, a subsecretária-geral para Assuntos Políticos e Consolidação da Paz lamentou que a "cautelosa esperança" registada há um mês em torno do fim dos combates tenha dado lugar a um "aumento brutal de ataques russos".
"Há exatamente um mês, havia uma cautelosa esperança de progresso na frente diplomática para interromper os combates. Lamentavelmente, em vez de medidas em direção à paz, testemunhamos um aumento brutal de ataques russos em larga escala em todo o país", afirmou Rosemary DiCarlo.
Por três noites consecutivas no último fim de semana, as Forças Armadas russas atacaram cidades e vilas ucranianas com números recorde de mísseis de longo alcance e drones, matando e ferindo dezenas de civis.
No total, desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, pelo menos 13.279 civis, incluindo 707 crianças, foram mortos.
O número confirmado de civis feridos é de 32.449, incluindo 2.068 crianças, reportou hoje a ONU.
"A situação geral da segurança até ao momento em 2025 é significativamente pior do que no mesmo período do ano passado. O número de mortes de civis no primeiro trimestre deste ano é 59% maior do que no mesmo período de 2024", assinalou DiCarlo.
No último mês, também as regiões russas que fazem fronteira com a Ucrânia relataram baixas civis.
De acordo com Moscovo, nove civis foram mortos e 117 ficaram feridos em decorrência dos ataques ucranianos realizados entre 19 e 25 de maio, com as Nações Unidas a frisarem que não podem verificar esses números.
Ao longo da guerra, a Comissão Independente de Inquérito sobre a Ucrânia tem investigado alegadas violações e abusos de direitos humanos e do direito internacional humanitário na Ucrânia.
Rosemary DiCarlo destacou que o impacto da guerra sobre as crianças é particularmente devastador: mais de 5,1 milhões de menores foram deslocados das suas casas.
Uma em cada cinco crianças perdeu um familiar ou amigo desde 2022.
"E o destino das crianças ucranianas que terão sido deportadas para a Federação Russa continua a ser uma questão de profunda preocupação", reforçou.
Ainda segundo com a subsecretária-geral da ONU, a esperança de que as partes em conflito consigam negociar ainda está viva, "mas por pouco", apelando por "esforços sérios, demonstráveis e de boa-fé" para acabar com a guerra.
Na reunião de hoje esteve também presente a diretora da Divisão de Financiamento do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), Lisa Doughten, que indicou que os serviços de saúde permanecem sob forte pressão na Ucrânia, especialmente na linha de frente de combate nas regiões de Kharkiv e Donetsk.
A Organização Mundial da Saúde já verificou este ano mais de 200 ataques que afetaram instalações de saúde, pessoal, transporte, materiais e pacientes em toda a Ucrânia.
Além disso, ataques com mísseis e drones na última semana danificaram prédios residenciais e infraestruturas essenciais, ressaltando a vulnerabilidade dos civis, especialmente dos mais de 3,7 milhões atualmente deslocados.
Apenas na semana passada, mais de 5.000 pessoas -- principalmente das regiões de Kherson, Donetsk e Sumy -- foram deslocadas devido à escalada da violência.
Apesar do trabalho desenvolvidos pelos trabalhadores humanitários no terreno, a escassez de financiamento já forçou a reduções na assistência financeira, no apoio à saúde mental, assistência em abrigos e serviços para sobreviventes de violência de género, disse Lisa Doughten.
"Sem apoio urgente, os programas principais correm o risco de serem suspensos, justamente quando as necessidades estão a aumentar", insistiu.
Na manhã de sexta-feira, a pedido da Rússia, o Conselho de Segurança voltará a reunir-se para outra reunião sobre a Ucrânia.
A Rússia diz querer discutir as alegadas ações de países europeus que estarão a dificultar os esforços para uma solução pacífica do conflito.
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