O que se sabe sobre a Fundação Humanitária de Gaza?

A Fundação Humanitária de Gaza, grupo opaco apoiado por Washington cujo propósito declarado é distribuir ajuda na Faixa de Gaza, é acusada de ajudar Israel a atingir os seus objetivos militares, contornando a ONU e excluindo os palestinianos.

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© AFP via Getty Images

Lusa
27/05/2025 19:07 ‧ ontem por Lusa

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Médio Oriente

Eis o que se sabe da Fundação Humanitária de Gaza (FHG) e das críticas de que tem sido alvo.

 

Quem é ela?

Registada em Genebra em fevereiro, a FHG não tem instalações nem representantes conhecidos na cidade, onde estão sediadas as organizações humanitárias internacionais.

O seu antigo diretor executivo, Jake Wood, anunciou a demissão no domingo, afirmando ser impossível realizar o seu trabalho em conformidade com os princípios humanitários de neutralidade e independência.

Na segunda-feira, a FHG anunciou que tinha começado a distribuir "camiões de alimentos" aos habitantes de Gaza "em locais de distribuição seguros".

"Outros carregamentos serão distribuídos" na terça-feira "e esse afluxo aumentará diariamente", prometeu a FHG, anunciando a nomeação de um novo diretor executivo.

A ONU disse hoje que não sabia se algum carregamento de ajuda humanitária tinha realmente sido entregue.

Fotos publicadas pelo grupo na segunda-feira mostram camiões, alguns deles a serem descarregados, num local rodeado por uma vedação metálica. A FHG não especificou nem onde as fotos foram tiradas nem o número de alegados beneficiários.

O Exército israelita declarou hoje que dois centros de distribuição da FHG "em Tel al-Sultan e no corredor de Morag, na zona de Rafah, começaram a funcionar".

Apresentou também um mapa que assinala um terceiro centro na região de Rafah, no sul do território palestiniano, e um quarto em Bureij, no centro.

Métodos criticados

Na semana passada, Israel levantou parcialmente o bloqueio total de entrada de ajuda humanitária que tinha imposto à Faixa de Gaza a partir de 02 de março, acusando o movimento islamita palestiniano Hamas de desviar a ajuda, o que o Hamas nega.

Mas a comunidade humanitária afirma que as entregas autorizadas por Israel até à data são irrisórias em relação às necessidades da população esfomeada de Gaza.

No território devastado por 19 meses de guerra entre Israel e o Hamas, o bloqueio agravou a já profunda escassez de alimentos, água potável e medicamentos.

Durante décadas, a UNRWA, a Agência das Nações Unidas para Ajuda aos Refugiados Palestinianos, supervisionou as operações humanitárias em Gaza.

Mas Israel acusou a agência de dar cobertura ao Hamas, alegando que alguns dos seus funcionários estiveram envolvidos no ataque do movimento palestiniano a território israelita, a 07 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.

Inquéritos revelaram "problemas de neutralidade" no seio da UNRWA, mas sublinharam que Israel não tinha apresentado provas conclusivas.

A FHG tem sido particularmente criticada por impor "locais de distribuição seguros", o que, segundo outras organizações humanitárias, é contrário às práticas normais, obrigando a população a deslocar-se para receber ajuda vital.

A grande maioria dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza foi obrigada a deslocar-se várias vezes dentro do território desde o início da guerra.

Os críticos da FHG também se questionam sobre quem determina esses locais de distribuição, tendo em conta os planos para "conquistar" Gaza anunciados por Israel.

Citando responsáveis israelitas não-identificados, o diário norte-americano The New York Times afirmou, a 24 de maio, que um novo plano de ajuda a Gaza, apoiado pelos Estados Unidos, tinha sido "concebido e largamente desenvolvido pelos israelitas como forma de enfraquecer o Hamas".

Quem vai trabalhar com a FHG?

Para já, ninguém, além do Governo dos Estados Unidos, anunciou querer apoiar a FHG.

As Nações Unidas excluíram a possibilidade de colaborar com a organização, cujo plano, segundo o seu porta-voz, Farhan Haq, "não está de acordo com os nossos princípios básicos, incluindo a imparcialidade, a neutralidade e a independência".

Um grupo de organizações não-governamentais (ONG), incluindo a ActionAid, salientou que "a ajuda utilizada para mascarar a violência em curso não é ajuda, é uma cobertura humanitária para dissimular uma estratégia militar de controlo e expropriação".

Na semana passada, um grupo suíço, o Trial International, solicitou a abertura de uma investigação para saber se as atividades da FHG estão em conformidade com o direito suíço e internacional.

Criticou igualmente o alegado recurso a empresas de segurança privadas que, segundo o grupo, poderá conduzir a uma "militarização da ajuda".

Na Faixa de Gaza, o Ministério do Interior do Hamas considerou que a FHG faz parte de um plano israelita para "controlar a distribuição de ajuda", descrevendo o grupo como uma "organização suspeita", e acusou Israel de o utilizar para fins militares.

Por seu lado, a Fundação Humanitária de Gaza acusou na segunda-feira o movimento islamita palestiniano de "fazer ameaças de morte a organizações que apoiam as operações humanitárias em locais de distribuição seguros" e de "tentar impedir que os habitantes de Gaza tenham acesso à ajuda nesses locais".

Leia Também: Demite-se líder de fundação humanitária para Gaza apoiada por EUA

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