Kai Höss, hoje com 63 anos, era apenas uma criança quando descobriu que o avô foi o comandante responsável pela morte de 1,1 milhões de pessoas, a maioria judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, no campo de extermínio de Auschwitz.
A descoberta chocante foi feita durante uma aula sobre o Holocausto, da disciplina de História, do sétimo ano de uma escola de Stuttgart, na Alemanha.
Quando ouviu o nome Rudolf Höss, Kai ficou intrigado e, ao chegar a casa, perguntou à mãe se este tinha alguma ligação com a família. A resposta foi devastadora: Rudolf era seu avô paterno.
"Senti muita vergonha", recordou Kai, agora, em entrevista ao New York Post, a propósito do documentário 'The Commandant’s Shadow' ('A Sombra do Comandante', em português), lançado em 2024 e disponível na Max, que acaba de ser indicado ao Emmy 2025 de Melhor Documentário.
A revelação do passado da família Höss foi também um trauma para a mãe de Kai, Irene. A alemã só soube dos crimes do sogro cinco anos depois de se casar com Hans-Jürgen Höss, filho de Rudolf. O marido preferiu sempre ignorar o assunto, tratando-o como algo do passado, mas o silêncio pesou sempre sobre o casamento, que acabou em divórcio.
Rudolf Höss foi um dos principais responsáveis pela "solução final" nazi. Sobre o seu comando, Auschwitz tornou-se no maior símbolo de horror do Holocausto.
Recorda o jornal norte-americano que os prisioneiros eram levados até às câmaras de gás, sobre o pretexto de que iam tomar banho, mas eram assassinados com o uso de Zyklon-B.
Höss foi capturado em 1946, depois da guerra terminar. O comandante, que é muitas vezes descrito como sendo o mais mortífero da história, acabou por confessar que chegou a matar 2 mil pessoas por hora. Acabou enforcado, em 1947, no próprio campo onde ordenou o genocídio de mais de um milhão de pessoas.
Já Kai, que participa também no documentário, continua a viver em Stuttgart, onde é pastor de uma igreja cristã. Ciente da herança sombria do seu apelido, transformou a sua vergonha em missão e combate o antissemitismo.
Já visitou dezenas de sinagogas na Europa, EUA e, em breve, vai viajar até à Austrália para partilhar a sua história. No documentário há mesmo uma altura em que se encontra, junto com o pai, com Anita Lasker-Wallfisch, uma sobrevivente de Auschwitz, um momento simbólico e poderoso, entre gerações e lados opostos da História.
Kai acredita que, passadas oito décadas do fim da guerra, as pessoas começam a estar insensíveis ao tema, ao genocídio e ao holocausto, por isso, defende, "é preciso trazer as pessoas de volta para que vejam o que aconteceu". "Precisam conhecer os dados e factos, mas também de sentir e de se comover", concluiu.
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