Mais de três anos após o início da invasão russa da Ucrânia, Kyiv e Moscovo relançam esta semana conversações de paz diretas na Turquia, as primeiras desde a primavera de 2022.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidou o homólogo russo, Vladimir Putin, a estar presente para negociar cara a cara, mas o chefe do Kremlin manteve-se em silêncio sobre a sua presença e mesmo sobre a composição da delegação russa.
Eis o que se sabe sobre as conversações, que continuam envoltas em incerteza a menos de 24 horas de um previsível início.
Quem estará presente?
Volodymyr Zelensky já disse que estará em Ancara para se encontrar com o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan. O seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Andriï Sybiga, anunciou também na terça-feira que se deslocaria a Antalya, no sudoeste da Turquia, onde se realiza simultaneamente uma reunião dos líderes das diplomacias da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Zelensky instou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a participar nas conversações, afirmando que isso "daria um impulso adicional" à visita de Putin.
Hoje, Trump mencionou a "possibilidade" de se deslocar à Turquia se o presidente russo participasse nas conversações. "Não sei se ele [Putin] vai. Sei que ele gostaria que eu estivesse lá. É uma possibilidade", disse o presidente dos Estados Unidos já a bordo do avião após deixar a Arábia Saudita e antes de chegar ao Qatar.
"A nossa agenda para amanhã [quinta-feira] está cheia", acrescentou, referindo-se à visita oficial a Doha, que será seguida por uma viagem a Abu Dhabi, "mas isso não significa que não farei isso para salvar muitas vidas antes de retornar" ao Golfo.
Nesta fase, é o chefe da diplomacia norte-americana, Marco Rubio, que é esperado sexta-feira em Istambul, segundo um alto funcionário do Departamento de Estado, deixando por esclarecer a data exata em que as conversações terão lugar.
Quanto a Putin, a sua presença continua a ser um mistério. Não respondeu aos pedidos do homólogo ucraniano para participar nas conversações.
Mas a Rússia estará "presente", de acordo com o Kremlin, que, hoje, se recusou a anunciar a identidade dos seus representantes.
Qual a posição das partes?
Kyiv, os seus aliados europeus e Washington querem um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias antes de qualquer negociação.
No sábado, Putin "não excluiu" a possibilidade de uma trégua ser discutida nas conversações, mas sublinhou que essas discussões deveriam centrar-se nas "causas profundas do conflito".
Antes disso, Moscovo tinha-se mostrado relutante em aceitar um cessar-fogo prolongado, por considerar que permitiria a Kyiv fortalecer-se, recebendo armas ocidentais, enquanto o exército russo tem a vantagem na linha da frente.
Desde o início da invasão, o Kremlin tem mantido as suas exigências maximalistas: a "desmilitarização" da Ucrânia, o que equivaleria à sua rendição, e a sua renúncia a aderir à NATO.
A Rússia reivindica também a anexação de quatro regiões do sul e do leste da Ucrânia que controla parcialmente, bem como a península da Crimeia, anexada em 2014.
Estas exigências são inaceitáveis para Kyiv, que há meses que pede "garantias de segurança" sólidas, através da adesão à NATO ou do envio de um contingente militar internacional, para dissuadir Moscovo de uma nova invasão.
O que se pode esperar?
Yuri Ushakov, conselheiro diplomático de Putin, disse que esperava conversações na Turquia na manhã de quinta-feira, nas quais estariam em agenda questões "políticas" e "técnicas".
Os aliados europeus de Kyiv ameaçaram a Rússia com "sanções maciças" se Moscovo não concordar com uma trégua prolongada nos próximos dias, e Zelensky apelou às sanções "mais fortes" de sempre contra o Kremlin se Putin se recusar a encontrar-se com ele.
Na quarta-feira, a UE aprovou o 17.º pacote de sanções contra a Rússia, visando os petroleiros da sua "frota fantasma" que lhe permitem contornar as restrições.
Além dos esforços para encontrar uma solução diplomática, a Rússia, que se gaba da resiliência da sua economia face às sanções, tem afirmado repetidamente que tenciona prosseguir os "objetivos" da sua invasão da Ucrânia.
Porquê a Turquia?
Enquanto membro da NATO, a Turquia mantém uma ligação importante com o Ocidente, mas procura também um equilíbrio com a Rússia, nomeadamente nos domínios da energia e da segurança.
O país partilha vários projetos de gás com Moscovo, como os gasodutos Blue Stream e Turkstream.
No entanto, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou em várias ocasiões o seu apego à integridade territorial da Ucrânia.
Em março de 2022, a Turquia organizou conversações diretas entre russos e ucranianos, mas sem sucesso, seguidas de conversações mediadas pela ONU sobre a questão das exportações de cereais ucranianos para o Mar Negro.
No domingo, Erdogan declarou que tinha sido alcançado um "ponto de viragem histórico" nos esforços para travar a guerra.
Leia Também: Rússia confirma negociações na Turquia mas ainda sem revelar nomes