O ex-presidente uruguaio José ‘Pepe’ Mujica, símbolo da esquerda latino-americana, morreu aos 89 anos, na terça-feira. Foram várias as ocasiões em que o antigo chefe de Estado deu conta da sua relação próxima com Manuela, a cadela de três pernas que era “a rainha da casa”. Queria, inclusive, ser enterrado a seu lado.
“Viveu 22 anos, o que é um recorde para um cão. Está enterrada debaixo de uma sequoia. No dia em que morrer, pedi para ser cremado e as cinzas colocadas ali, debaixo daquela árvore, ao lado da Manuela. Quanto mais conheço os humanos, mais gosto dos cães”, confessou Mujica, numa entrevista à CNN, em 2020.
Já no final de 2024, o antigo chefe de Estado reforçou, ao mesmo canal televisivo, que o seu destino era “debaixo daquela sequoia”.
“O meu destino é debaixo daquela sequoia, onde a Manuela está enterrada. Quando morrer, vão cremar-me e enterrar-me lá”, disse.
Mujica refletiu ainda sobre a vida, que considerou ser uma “aventura de moléculas”, e sobre a morte.
“Este pedaço em que estamos no topo do planeta é o paraíso e o inferno. Viemos do nada e vamos para o nada. Gostava que houvesse vida depois da morte, mas acho que não”, admitiu.
Recorde-se que Manuela morreu em 2018 e foi enterrada na quinta Rincón del Cerro, onde o “presidente mais pobre do mundo” vivia com a esposa, Lucía Topolansky, segundo o El Observador.
Nascida em Paysandú, a cadela era filha de Dunga, o cão da irmã de Topolansky, e foi batizada numa ode à animação infantil argentina ‘A Tartaruga Manuelita’, de acordo com o mesmo meio.
Inicialmente, a relação de Manuela com o pastor-alemão do casal não foi fácil, mas “acabaram por se tornar amigos” e “saíam juntos para caçar”. Depois de o animal ter sido envenenado, Manuela passou a ser “a rainha da casa” e foi-lhe permitido “ficar dentro de casa” e “dormir ao lado da cama”, segundo Topolansky.
A cadela perdeu uma das patas há cerca de 20 anos, num acidente com um trator conduzido por Mujica. Naquele dia, outros cães da zona perseguiram-na, pelo que Manuela fugiu na direção do dono. Mujica não conseguiu travar o trator a tempo e o tendão do animal ficou pendurado.
Mas sentimento que Mujica nutria por Manuela era recíproco. Segundo Topolansky, quando o antigo presidente adoeceu, em 2005, e esteve hospitalizado durante um mês, a cadela sentiu a sua falta.
“Ia às seis da manhã para tomar conta dele e voltava às seis da tarde. Quando eu chegava ao carro, ela estava lá à espera. De que é que ela estava à espera? Que o Pepe saísse. Estava toda contente e depois... orelhas caídas. No dia em que ele chegou, parecia que a cauda ia cair de alegria”, contou.
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