"Pergunto-me como se pode fazer diplomacia e política externa se os políticos não podem encontrar-se e manter um diálogo normal sobre temas nos quais divergem", declarou Robert Fico, numa carta aberta à Alta Responsável da União Europeia (UE) para a Política Externa e de Segurança, Kaja Kallas, que hoje, durante uma visita à Ucrânia, atacou o chefe do Governo eslovaco.
Fico criticou a "nova política de cortina de ferro" que a Europa está a tentar "tão intensamente" impor e recordou a Kallas que "não tem qualquer autoridade" para criticar "um primeiro-ministro soberano de um país soberano que está a abordar de forma construtiva a agenda europeia".
"Registo as suas declarações. Aparentemente, não estou do lado certo da História, nem de outras profundas considerações geopolíticas semelhantes", ironizou o chefe do executivo da Eslováquia, no princípio de uma missiva dividida em quatro pontos publicada nas suas contas das redes sociais.
Robert Fico sublinhou que a sua visita a Moscovo faz parte da sua obrigação, enquanto primeiro-ministro, de "prestar homenagem" aos "mais de 60 mil soldados do Exército Vermelho que morreram a libertar a Eslováquia".
"Não é, para mim, claro o que é que estas pessoas corajosas têm que ver com a atual situação internacional", observou Fico, a quem as autoridades russas reconheceram "a vontade" que demonstrou ao estar presente na homenagem do 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), "apesar das flagrantes e desenfreadas pressões".
A Eslováquia foi um dos cerca de 20 países que marcaram presença, a nível de chefes de Estado ou de Governo, na parada militar russa, com a particularidade de ser um Estado-membro da UE.
Outro dos presentes foi o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, cujo país aspira à adesão ao bloco comunitário europeu.
O Kremlin está a aproveitar as comemorações do 80.º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazi para consolidar o patriotismo no seu país e fazer uma demonstração de força no estrangeiro, enquanto as suas tropas combatem na Ucrânia, desde a invasão do país vizinho a 24 de fevereiro de 2022.
O Presidente russo, Vladimir Putin, que lidera as cerimónias, louvou hoje "a coragem" dos soldados russos envolvidos na Ucrânia, perante milhares de soldados reunidos na Praça Vermelha e cerca de 20 líderes estrangeiros, entre os quais, além de Robert Fico e Aleksandar Vucic, aliados e parceiros de Moscovo, como China, Brasil, Cazaquistão, Bielorrússia, Vietname, Arménia, Cuba e Venezuela.
Putin voltou a estabelecer paralelos históricos entre a Segunda Guerra Mundial e a agressão em grande escala à Ucrânia, por ocasião do 09 de maio, a data central do calendário patriótico russo.
"Todo o país, a sociedade e o povo apoiam os participantes na operação militar especial" na Ucrânia, declarou Putin, utilizando o eufemismo para designar a guerra que já custou dezenas de milhares de vidas civis e militares e está a devastar o território ucraniano.
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