O Wall Street Journal noticiou hoje, citando fontes não identificadas, que a Administração Trump pediu aos serviços secretos que identificassem indivíduos na Gronelândia e na Dinamarca que pudessem apoiar as aspirações de Washington em relação à ilha do Ártico.
Trump tem reiterado nos últimos meses que, por alegadas razões de segurança, precisa de "tomar posse" deste território, onde os Estados Unidos já têm uma base militar, recentemente visitada pelo vice-Presidente JD Vance.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros dinamarquês não disse quando é que a reunião com o embaixador norte-americano terá lugar ou em que formato.
À chegada a uma reunião ministerial da União Europeia (UE) em Varsóvia, o ministro dinamarquês dos Negócios Estrangeiros, Lars Løkke Rasmussen, disse aos jornalistas estar "muito preocupado" com as informações.
"Enquanto amigos, não podemos andar a espiar-nos uns aos outros", sublinhou.
"Não posso saber se é verdade o que vem num jornal. Mas não parece ser claramente rejeitado por aqueles que se manifestaram. E isso preocupa-me", disse.
O interesse dos EUA na ilha tem sido criticado pelos governos dinamarquês e gronelandês como desrespeitoso, embora ambos tenham manifestado abertura para uma maior cooperação com Washington.
Trump já equacionou a possibilidade de comprar o território à Dinamarca ou fazer uma proposta à própria Gronelândia e aludiu também à possibilidade de anexá-la através de uma intervenção militar, ainda que não tenha taxativamente avançado com essa hipótese.
Também hoje, a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros insistiu hoje no direito da Gronelândia de decidir o seu próprio futuro, realçando ainda a relevância geoestratégica do território autónomo dinamarquês.
"Quaisquer decisões sobre o futuro da Gronelândia têm de ser assim decididas: pela população da Gronelândia", disse Kaja Kallas, perante os eurodeputados reunidos esta semana em sessão plenária em Estrasburgo, França.
Kallas advertiu que a única maneira de assegurar que o mundo continua a ser regido por regras é "respeitando na íntegra os princípios de soberania, integridade territorial e as delimitações fronteiriças".
A UE "apoia totalmente a Dinamarca e a Gronelândia, e está a coordenar posições com os dois [país e território autónomo]", sustentou Kaja Kallas.
A Gronelândia, com uma população de pouco menos de 57.000 habitantes em 2,2 milhões de quilómetros quadrados (80% dos quais estão permanentemente cobertos de gelo), goza desde 2009 de uma ampla autonomia e do direito à autodeterminação.
A ilha é economicamente muito dependente da Dinamarca, que fornece cerca de 40% do seu rendimento anual, e da pesca, que representa 90% das suas exportações.
A responsável pelas posições diplomáticas do bloco comunitário destacou ainda que "há uma presença militar cada vez maior no Ártico", por isso a Gronelândia ganhou outra relevância geoestratégica.
O crescimento da atividade militar naquela região é uma consequência "da invasão russa" da Ucrânia, avaliou Kaja Kallas, e das "alterações das dinâmicas securitárias globais".
"É essencial estar vigilante", avisou.
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