"A quarta economia do euro não vai tolerar que o ocorrido em 28 de abril se salde sem demissões", disse Feijóo, numa intervenção no parlamento nacional de Espanha, depois de um discurso de uma hora e meia do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, em que o líder do Governo não revelou novidades em relação ao apagão.
Segundo Sánchez, levará tempo a analisar 756 milhões de dados pedidos aos operadores da rede elétrica de Espanha e chegar a uma conclusão sobre as causas que levaram a um apagão que deixou sem eletricidade Portugal e Espanha continentais.
Na resposta a Sánchez, Feijóo pediu demissões no Governo e na empresa que gere a rede elétrica de Espanha (REE - Red Eléctrica), parcialmente privatizada, mas em que o Estado mantém uma participação de 20%.
Para o líder da oposição, no dia do apagão, falhou o sistema elétrico, mas também a gestão da crise, a comunicação e a transparência por parte do Governo espanhol, com Sánchez a demorar quase seis horas a falar ao país desde o momento do corte de energia.
Feijóo lembrou também que morreram cinco pessoas em Espanha por causas ligadas ao apagão.
O líder do PP considerou, por outro lado, que o modelo energético dos governos de Sánchez, no poder desde 2018, falhou, e que foi uma vergonha ter de pedir um "resgate energético" a França e Marrocos para começar a repor o abastecimento depois do apagão.
Fazendo eco de notícias na imprensa espanhola da última semana, Feijóo acusou o Governo de ter ignorado vários alertas para o risco de instabilidade no sistema elétrico devido ao aumento do peso das energias produzidas com fontes renováveis.
Feijóo disse que "renováveis, sim, mas tecnologias de apoio também".
"Não é uma questão de renováveis ou nucleares. É de renováveis e nucleares", afirmou, para defender um "'mix' energético equilibrado".
Feijóo disse a Sánchez que o modelo energético do Governo espanhol "não é ecológico, é ideológico", devolvendo ao primeiro-ministro uma acusação que o líder do executivo lhe tinha feito minutos antes.
O PP defendeu uma investigação internacional "independente e confiável" ao apagão e insistiu que Espanha não deve fechar as cinco centrais nucleares ativas no país, como está previsto ocorrer até 2035.
Também o Vox, formação de extrema-direita e o terceiro maior partido no parlamento, pediu hoje demissões no Governo por causa do apagão e, em concreto, a do próprio primeiro-ministro, depois de "deixar Espanha às escuras".
O apagão de 28 de abril está a ser discutido hoje no plenário do parlamento de Espanha, por iniciativa do líder do Governo.
Sánchez prometeu que o Governo vai "chegar ao fundo" deste assunto para saber o que aconteceu, "assumir e pedir responsabilidades políticas" e adotar medidas para que não volte a acontecer.
Insistindo em que se trata de um assunto complexo, exigiu e prometeu "rigor, cautela, prudência e absoluta transparência".
"Posso assegurar que tudo que for descoberto se tornará público", afirmou, depois de dizer que o executivo espanhol "está plenamente consciente" de que os cidadãos querem saber o que aconteceu.
"Não vamos fechar qualquer debate em falso, não vamos precipitar-nos nas conclusões", acrescentou, antes de sublinhar que "para fazer bem o trabalho, os técnicos precisam de tempo" e que "a responsabilidade do Governo é respeitar a complexidade do assunto" e "não gerar ruído e debates interessados, como já estão a fazer alguns".
A este propósito, pediu aos espanhóis para desconfiarem dos discursos que tentam explicar o apagão com um debate entre energias renováveis e nuclear.
"Neste momento, não há nenhuma evidência empírica que diga que o incidente foi provocado por excesso de renováveis ou falta de centrais nucleares em Espanha", afirmou, num discurso em que acusou partidos políticos de direita e extrema-direita de terem embarcado, sem dados ou provas, numa "agenda ideológica" e nos interesses de empresas que são proprietárias das centrais nucleares espanholas.
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