As três crianças que foram resgatadas da chamada "casa dos horrores", em Oviedo, Espanha, onde estavam presas desde 2021, ficaram em "choque" quando saíram da habitação para o jardim, onde sentiram a relva e viram um caracol.
"Respiraram fundo. Tocaram na relva e um deles ficou absorto com um caracol, como se nunca tivesse visto", contou, ao canal de televisão espanhol La Sexta, um dos agentes da Polícia Local de Oviedo, que retirou as crianças da casa.
As três crianças, com idades entre os oito e os dez anos, estiveram pelo menos quatro anos fechadas em casa, sem acesso a escola ou cuidados médicos e em condições extremas de abandono.
A psicóloga Estefanía Igartua, no mesmo canal de televisão, alertou para o facto de ser necessário "trabalhar muito" com estas crianças para as ajudar, depois da situação traumática que viveram.
"Temos de trabalhar as suas competências sociais. Perderam alguns anos muito importantes da sua infância, em que tinham de se relacionar com adultos que não fossem os pais e outras crianças da sua idade", explicou ainda.
Além disso, admite que o processo de recuperação das crianças vai ser demorado.
"O facto de terem vivido com fezes e em condições tão negligentes significa que têm de começar do zero", afirmou a psicóloga.
O juiz decretou, na semana passada, prisão preventiva para o casal que vivia com as crianças - serão, alegadamente, os pais -, sem direito a caução, pelos crimes de violência doméstica, maus-tratos psicológicos e abandono de crianças, podendo ainda vir a ser acusados do crime de detenção ilegal.
Os menores, que eram tratados como bebés, eram sujeitos a um horário rígido para ir à casa de banho. Depois, eram instruídos a usar fraldas e dormiam em berços.
Além disso, só podiam olhar pela janela por pequenos períodos temporais, e tinham de baixar as persianas de seguida.
A investigação arrancou a 14 de abril, depois de uma vizinha ter alertado as autoridades que ouvia vozes e via crianças pelas janelas, mas que os menores nunca saíam de casa. Ao fim de vários dias de vigilância, a polícia verificou que a porta de casa, que estava em nome do homem, só era aberta para recolher encomendas de comida dos supermercados.
Na sequência de uma reunião com o Tribunal de Menores, foi emitida uma ordem de entrada na residência, o que ocorreu na segunda-feira, pouco antes do apagão. Estiveram presentes sete elementos da polícia local de Oviedo, pessoal dos serviços sociais da autarquia e um tradutor alemão.
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