O Colégio de Cardeais, através de um comunicado, mostrou o seu "apreço" pela decisão do cardeal italiano Angelo Becciu ao comunicar que não participará no Conclave, que irá acontecer no dia 7 de maio, para "obedecer à vontade do Papa Francisco".
"A Congregação de Cardeais expressa o seu apreço pelo gesto que ele [Angelo Becciu] fez e espera que os órgãos competentes da Justiça sejam capazes de apurar os factos", lê-se no comunicado, citado pela ABC News.
Os cardeais agradeceram ainda ao cardeal italiano por se retirar e por "contribuir para a comunhão e serenidade do Conclave".
De recordar que o cardeal Becciu estava acusado de, juntamente com outras nove pessoas, ter causado um buraco de 139 milhões de euros nos cofres do Vaticano, crime pelo qual foi acusado em dezembro de 2023.
O Papa Francisco também terá deixado duas cartas, que foram mostradas ao italiano, a indicar que não o queria no Conclave.
Embora tenha participado nas reuniões das Congregações Gerais após a morte de Francisco, Angelo Becciu anunciou, na terça-feira, que renunciava e que não participaria no Conclave para eleger o novo Papa.
“Tendo em mente o bem da Igreja, que servi e continuarei a servir com fidelidade e amor, bem como contribuir à comunhão e à serenidade do Conclave, decidi obedecer, como sempre fiz, à vontade do Papa Francisco de não entrar em Conclave, permanecendo convencido de minha inocência", anunciou.
Becciu, de 75 anos, foi já um dos cardeais mais influentes do Vaticano e um assessor próximo do Papa Francisco, foi o primeiro cardeal a ser julgado por um tribunal do Vaticano e não esteve presente na audiência.
Em causa esteve compra de um edifício no centro de Londres, pela Secretaria de Estado do Vaticano, quando Becciu era responsável pelos Assuntos Gerais (2011-2018), uma operação altamente especulativa que criou um buraco nas contas da Santa Sé de pelo menos 139 milhões de euros.
Mais concretamente, tratava-se de um edifício na Sloane Avenue, antiga sede dos grandes armazéns Harrods, no bairro exclusivo de Chelsea.
A acusação alegava que o edifício tinha custado à Santa Sé cerca de 350 milhões de euros, mas foi posteriormente vendido pelo Vaticano por 186 milhões de libras (cerca de 214 milhões de euros).
Além disso, a aquisição terá sido utilizada para extorquir dinheiro ao Vaticano e demonstrou a falta de transparência e as irregularidades nas contas da Santa Sé, indicava a acusação.
Em 2020, o Papa Francisco obrigou Angelo Becciu a afastar-se das suas funções no Vaticano. No entanto, manteve o título de cardeal.
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