Líder do ACNUR critica líderes por "ilusão perversa" de que "paz é para fracos"

O alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) criticou hoje as lideranças que continuam a alimentar conflitos sob a "ilusão perversa" de que "a paz é para os fracos", lamentando a "cegueira" pela ideia da vitória militar total.

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Lusa
28/04/2025 18:31 ‧ ontem por Lusa

Mundo

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Num duro discurso perante o Conselho de Segurança da ONU, Filippo Grandi foi além da abordagem à situação geral dos refugiados e focou-se nos motivos que levam à deslocação forçada, nomeadamente os "120 conflitos que perduram inabaláveis" à escala mundial.

 

Do Sudão à Ucrânia, do Sahel a Myanmar (antiga Birmânia), da República Democrática do Congo ao Haiti ou a Gaza, Grandi sublinhou que o mundo atravessa uma época de guerra e de crise, em que a violência se tornou "a moeda de troca da nossa era".

"Infelizmente, essa é a realidade do nosso mundo. Um mundo onde, segundo a Cruz Vermelha, 120 conflitos perduram inabaláveis. Cada um deles alimentado pela mesma ilusão perversa, porém poderosa: de que a paz é para os fracos. De que a única maneira de acabar com a guerra não é através de negociação, mas infligindo tanta dor aos seus inimigos que eles fiquem com duas opções: render-se ou serem aniquilados", disse. 

"E assim, cegos pela ideia de que somente a vitória militar total resolverá o problema, não deveria ser surpresa que as normas do direito internacional humanitário, (...) sejam descartadas com a mesma facilidade com que milhares de vidas são destruídas na busca pela supremacia. Que loucura!", denunciou o líder do ACNUR.

Virando o foco para o próprio Conselho de Segurança da ONU, Grandi avaliou que este órgão tem falhado "cronicamente" em cumprir o propósito para o qual foi criado: prevenir e pôr fim às guerras, mantendo a paz e a segurança internacionais.

Em nome dos 123 milhões de pessoas deslocadas à força, que estão "entre as primeiras vítimas das guerras", o diplomata italiano pediu ao Conselho de Segurança que não se resigne "à derrota da diplomacia".

O alto-comissário abordou ainda os cortes de financiamento que têm sido determinados por vários países e, sem referir diretamente os Estados Unidos - país que anunciou os maiores cortes -, garantiu que congelar ou cortar orçamentos de ajuda já está a ter consequências fatais para milhões de vidas. 

"Ouvimos falar em priorizar os interesses nacionais, em aumentar os gastos com defesa --- todas preocupações válidas e interesses legítimos do Estado, é claro. Mas estas não são incompatíveis com a ajuda, muito pelo contrário", insistiu, tentando convencer os países doadores a restabelecerem a ajuda aos mais necessitados.

"Ajuda é estabilidade", frisou o representante, que assumiu a liderança do ACNUR em janeiro de 2016.

Destacando que muitos dos países que integram o Conselho de Segurança já tiveram momentos na sua história em que tiveram de lutar pela liberdade e contra a opressão, já sentiram o "imperativo de deixar o próprio lar por causa da guerra, da violência e da perseguição", quer no papel de refugiados, quer oferecendo refúgio, Grandi instou agora os líderes mundiais a sentarem-se "à mesa, com a responsabilidade de acabar com a guerra e trazer a paz". 

Leia Também: ACNUR e PAM admitem redução drástica de operações devido a cortes

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