Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, o controlo do aeroporto internacional, nos subúrbios da cidade, foi assumido pelos 'jihadistas' do Hayat Tahrir al-Sham (HTS, em português Organização pela Libertação do Levante, também conhecido como Al-Qaida na Síria) e pelos seus aliados.
A ONG referiu que os rebeldes também avançaram nas províncias de Idlib e Hama ,assumindo o controlo de "dezenas de localidades estratégicas sem qualquer resistência".
Também o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) informou que o aeroporto da cidade foi encerrado e todos os voos foram suspensos.
Na sexta-feira, os dois principais hospitais públicos de Alepo estavam alegadamente cheios de pacientes, enquanto muitas instalações privadas fecharam, segundo o OCHA.
Entretanto, o Irão -- que apoia o regime de Bashar al-Assad na luta contra os rebeldes - afirmou hoje que "elementos terroristas" atacaram o seu consulado em Alepo, no norte da Síria.
Em comunicado, Esmaeil Baghaei, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, "condenou veementemente o ataque" perpetrado por "certos elementos terroristas armados" contra o consulado iraniano, acrescentando que todo o pessoal estava são e salvo.
Milhares de rebeldes sírios espalharam-se hoje por Alepo em veículos com blindagem improvisada e carrinhas de caixa aberta, deslocando-se para pontos de referência como a antiga cidadela, um dia depois de terem entrado na segunda maior cidade da Síria, enfrentando pouca resistência das tropas do governo, de acordo com residentes e combatentes.
Testemunhas disseram que dois ataques aéreos na periferia da cidade, na sexta-feira, visaram reforços insurrectos e atingiram áreas residenciais. Um monitor de guerra disse que 20 combatentes foram mortos.
As Forças Armadas sírias afirmaram hoje, num comunicado, que para responder ao grande ataque a Alepo e salvar vidas foram reposicionadas e estão a preparar-se para um contra-ataque. Na nota, reconhecem que os insurrectos entraram em grande parte da cidade, mas afirmam que não estabeleceram bases ou postos de controlo.
Num programa matinal da televisão estatal esta manhã, os comentadores afirmaram que os reforços do exército e a ajuda da Rússia irão repelir os "grupos terroristas", acusando a Turquia de apoiar a ofensiva dos rebeldes nas províncias de Alepo e Idlib.
A agência noticiosa estatal russa Tass citou Oleg Ignasyuk, um funcionário do Ministério da Defesa russo que coordena as operações na Síria, afirmando que os aviões de guerra de Moscovo atingiram e mataram 200 militantes que lançaram a ofensiva no noroeste do país na sexta-feira.
Rebeldes foram filmados à porta da sede da polícia, no centro da cidade e à porta da cidadela de Alepo, o palácio medieval no centro antigo da cidade e um dos maiores do mundo.
Os insurgentes arrancaram cartazes do Presidente sírio, Bashar al-Assad, pisando alguns e queimando outros. Em vídeos publicados nas redes sociais, mostram-se a conversar com habitantes e a visitar as suas casas, procurando assegurar-lhes que não causarão danos.
A operação relâmpago dos rebeldes é um enorme embaraço para al-Assad, que conseguiu recuperar o controlo total da cidade em 2016, depois de expulsar os insurgentes e milhares de civis dos bairros orientais, na sequência de uma extenuante campanha militar em que as suas forças foram apoiadas pela Rússia, pelo Irão e pelos seus grupos aliados.
Desde então, Alepo não foi atacada pelas forças da oposição. A batalha de 2016 pela cidade foi um ponto de viragem na guerra entre as forças governamentais sírias e os combatentes rebeldes, depois de os protestos de 2011 contra o regime de al-Assad se terem transformado numa guerra total.
O avanço para Alepo seguiu-se a semanas de violência de baixo nível, incluindo ataques do Governo a zonas controladas pela oposição.
A Turquia, que tem apoiado os grupos da oposição síria, falhou nos seus esforços diplomáticos para impedir os ataques do Governo sírio, que foram vistos como uma violação de um acordo de 2019 patrocinado pela Rússia, Turquia e Irão para congelar a linha do conflito.
Uma testemunha em Alepo disse que as tropas governamentais permaneceram no aeroporto da cidade e numa academia militar, mas a maioria das forças já abandonou a cidade pelo sul. As forças curdas sírias permaneceram em dois bairros.
Os rebeldes lançaram a sua ofensiva de choque nas zonas rurais de Alepo e Idlib na quarta-feira e tomaram o controlo de dezenas de aldeias e cidades antes de entrarem na sexta-feira em Alepo, onde residentes relataram confrontos e tiroteios.
[Notícia atualizada às 17h38]
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