Governo francês diz-se preparado para "um confronto" com Reino Unido

O ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, que viajou hoje para a costa francesa, onde mais de 70 migrantes morreram em 2024 quando tentavam atravessar o Canal da Mancha, disse estar pronto para "um confronto" com Londres sobre migração.

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© IAN LANGSDON/AFP via Getty Images

Lusa
29/11/2024 16:57 ‧ há 3 dias por Lusa

Mundo

Migrações

"Precisamos de uma nova relação com os britânicos. O Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia] mudou os dados. Só a conclusão de um acordo abrangente entre o Reino Unido e a UE pode realmente mudar a situação", declarou numa entrevista hoje publicada.

 

Em conferência de imprensa, o ministro francês sublinhou que "a relação entre a França e o Reino Unido não pode ser reduzida à simples subcontratação" da França como "guardiã da fronteira" entre os dois países.

"Espero que não cheguemos a esse ponto, mas temos de mudar esta relação", insistiu, deplorando que "o Brexit tenha destruído todas as relações migratórias com o outro lado do Canal da Mancha, incluindo as admissões legais".

Na entrevista ao jornal Voix du Nord, citada pela agência AFP, Retailleau sublinhou que o Reino Unido tem de assumir responsabilidade na questão das migrações.

"A França não pode enfrentar esta questão sozinha. O Reino Unido deve assumir plenamente a sua parte, tal como os nossos parceiros europeus. Não se pode comprar o nosso silêncio com libras inglesas. Quero que os nossos esforços tenham uma medida justa", avançou.

"Em última análise, será necessário haver uma rota legal [de migração] para o Reino Unido e de intercâmbio não só com a França, mas também com outros países fronteiriços", acrescentou.

Pelo menos 72 pessoas morreram desde o início do ano a tentar chegar a Inglaterra por via marítima a partir da costa francesa, segundo uma contagem da câmara regional de Pas-de-Calais, que já contabiliza o ano 2024 como o mais mortífero desde o aparecimento do "fenómeno dos pequenos barcos" no Canal da Mancha, em 2018.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou um "plano" para reduzir a imigração, com requisitos mais rigorosos para a contratação de trabalhadores estrangeiros e sanções mais severas para as empresas que infrinjam a legislação em matéria de vistos.

Numa conferência de imprensa em Downing Street, a sede do executivo, o primeiro-ministro trabalhista atacou o "fracasso" do anterior Governo conservador e defendeu uma "nova abordagem", seja na atribuição de vistos de trabalho ou na gestão do sistema de asilo.

O tema da imigração, tanto legal como ilegal, é sensível para o Governo britânico trabalhista, que fez da redução da migração uma das suas prioridades, prometendo fazer melhor do que os seus antecessores conservadores nesta área, o que ajudou à sua ascensão ao poder em julho.

No total, 1,2 milhões de pessoas entraram no território entre junho de 2023 e junho de 2024, e 479 mil saíram no mesmo período, elevando o número líquido de imigração para 728 mil pessoas.

Leia Também: Nove barcos com 572 migrantes a bordo intercetados no Canal da Mancha

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