A organização não-governamental (ONG) apresentou uma queixa-crime no Ministério Público de Agrigento (Sicília, sul de Itália) para denunciar o caso, descrevendo que comunicou "uma emergência à Guarda Costeira italiana" sobre uma embarcação com quase 30 migrantes a bordo que se afundou.
Apesar do aviso das suas equipas, a embarcação afundou-se e "21 pessoas morreram afogadas antes de as autoridades italianas tomarem medidas de salvamento", alegou a Sea Watch, num comunicado citado pelas agências internacionais.
A ONG acusa Itália de "naufrágio negligente", "homicídio múltiplo negligente", "não prestação de assistência" e "recusa em cumprir deveres oficiais".
A queixa baseia-se no testemunho de três sobreviventes e do filho de um dos afogados, bem como em "provas fotográficas e relatórios forenses" que apoiam as suas alegações.
A Sea Watch salienta que o seu avião de vigilância aérea no Mediterrâneo central, o 'Seabird 2', avistou uma embarcação em perigo com 28 pessoas a bordo a 02 de setembro, após o que informou "imediatamente" as autoridades.
"O último avistamento do barco foi a 26 milhas náuticas" de Lampedusa, uma pequena ilha italiana de 20 quilómetros quadrados no Mediterrâneo central, um dos pontos mais próximos de Itália do norte de África e o epicentro das chegadas de migrantes ao longo desta perigosa rota migratória.
De acordo com a Sea Watch, a distância a que o barco se encontrava "poderia ter sido percorrida em cerca de uma hora" pela Guarda Costeira italiana, mas as suas forças "permaneceram inativas".
Finalmente, a 04 de setembro, a mesma organização "resgatou sete sobreviventes" do naufrágio, "ocorrido a dez milhas náuticas de Lampedusa".
Perante isto, a Sea Watch pede uma investigação sobre todas as circunstâncias destes acontecimentos, para "pôr fim aos milhares de afogamentos" de migrantes no Mediterrâneo central e para garantir que "aqueles que não cumprem o seu dever de salvamento sejam levados à justiça".
Segundo a ONG, este "não foi um incidente isolado".
"Mais de 1.700 pessoas foram dadas como mortas ou desaparecidas no Mediterrâneo" até agora em 2024, enquanto mais de 30.000 pessoas morreram desde 2014, denunciou.
O Governo italiano de Giorgia Meloni, uma coligação entre direita e extrema-direita, tem como um dos seus principais pilares políticos a contenção da migração irregular e aplica medidas que, segundo as ONG e os grupos de defesa dos direitos humanos, dificultam o salvamento dos migrantes. Entre as medidas aplicadas constam multas, o bloqueio da navegação dos navios de salvamento ou a atribuição de portos distantes para receber as pessoas resgatadas.
O vice-presidente do Governo italiano e líder da Liga (extrema-direita), Matteo Salvini, está a ser julgado por rapto e abuso de poder, por, em 2019, enquanto ministro do Interior, ter impedido durante 20 dias o desembarque de migrantes do navio humanitário "Open Arms", no âmbito de uma política rigorosa de portos fechados aplicada pelo então executivo.
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