Nadejda Bouianova, 68 anos, foi considerada culpada da prática do crime de divulgação pública de informações falsas sobre as Forças Armadas da Rússia utilizando uma posição oficial, segundo a agência russa TASS.
Após a leitura da sentença, os apoiantes da pediatra gritaram "vergonha", relatou um jornalista da agência francesa AFP presente na sala de audiências do tribunal distrital de Tushinsky, em Moscovo.
Momentos antes, Nadejda Bouianova tinha denunciado ser vítima de um "processo absurdo".
Um dos seus advogados, Oscar Tcherdjiev, disse aos jornalistas que a sentença era "dura e ilegal".
"Não foi apresentada qualquer prova", afirmou.
A acusação tinha pedido uma pena de seis anos de prisão, enquanto a defesa queria a absolvição da médica, que proclamou a sua inocência em tribunal.
"Não reconheço a minha culpa, estou inocente", declarou, em lágrimas, antes do início de uma audiência anterior.
"Nada disto é verdade", acrescentou.
Bouianova foi denunciada em 31 de janeiro pela companheira de um soldado desaparecido russo na frente de combate na Ucrânia, Anastassia Akinchina, 34 anos.
Akinchina, mãe de um menino de 7 anos tratado pela médica, acusou-a de lhe ter dito, durante uma consulta, que o companheiro "era um alvo legítimo" e que "a Rússia era um agressor e atacava os civis ucranianos".
Esta versão foi refutada por Bouianova, que descreveu a denunciante como "uma pessoa de caráter instável" que tinha saído "nervosa e infeliz" de uma consulta para tratar uma infeção ocular do filho.
Na sequência das acusações, a pediatra foi imediatamente despedida, tendo tido apenas 10 minutos, segundo contou, para fazer as malas e deixar o hospital onde trabalhava há quatro anos.
A médica foi acusada em fevereiro e detida em abril por "divulgar informações falsas" sobre o exército russo, alegadamente motivadas por "ódio étnico".
Nadejda Bouianova vive na Rússia há 30 anos, mas nasceu em Lviv, uma cidade no oeste da Ucrânia, considerada na Rússia como o bastião do nacionalismo ucraniano.
"Que ódio poderia eu sentir? Estou ligada a três povos eslavos: a Rússia, a Bielorrússia e a Ucrânia", defendeu-se a pediatra em tribunal, na semana passada, antes de irromper em lágrimas e de denunciar a falta de provas.
Os colegas de Bouianova lançaram uma petição na Internet para a apoiar e o seu despedimento foi anulado em julho por um tribunal de Moscovo, mas isso não teve qualquer efeito no processo penal.
O caso ilustra a repressão implacável dos críticos, reais ou aparentes, da ofensiva do exército russo contra a Ucrânia, ordenada em fevereiro de 2022 pelo Presidente Vladimir Putin, segundo a AFP.
As detenções por espionagem, traição, sabotagem, extremismo ou simples críticas ao exército multiplicam-se, o que faz com que os acusados, muitas vezes vítimas de denúncias, recebam penas de prisão muito pesadas.
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