Ao início da tarde de hoje (hora local, noite em Lisboa), um jovem eleitor democrata mantinha-se a cerca de 100 metros de uma assembleia de voto em Staten Island, perto da única estação de 'ferry' que liga a ilha a Manhattan. Fazia campanha pela senadora estadual democrata Jessica Scarcella-Spanton e, por estar a trabalhar, não se quis identificar para a reportagem da Lusa, mas atreveu-se a refletir sobre o porquê desta ilha republicana numa cidade historicamente democrata.
"É um voto de protesto, diria. Não nos podemos esquecer que Staten Island é o distrito esquecido de Nova Iorque. Há definitivamente um ressentimento aqui. Não recebemos a atenção que os outros distritos recebem, desde a saúde aos transportes. Temos uma das portagens mais elevadas do país, diria eu, para podermos chegar de carro aqui à ilha. A precariedade dos transportes é um dos maiores problemas", disse.
"Além disso, a classe trabalhadora tende a acreditar erradamente que o Trump os defende e fala por eles, apesar dos seus registos mostrarem precisamente o oposto", observou o jovem democrata.
De acordo com o eleitor, há muitas razões para os moradores da ilha estarem "revoltados com o sistema", mas, segundo ele, nenhuma delas devia ser motivo para votarem no magnata republicano, que "a única coisa que fez por Staten Island quando estava na Casa Branca foi aumentar os impostos".
Staten Island, que está conectado à baixa de Manhattan por um sistema de 'ferry', é o único reduto de Nova Iorque onde Donald Trump venceu consecutivamente, em 2016 e em 2020, com 57% dos votos.
Em Nova Iorque, um estado tradicionalmente democrata, é Kamala Harris quem lidera as sondagens de intenção de voto.
O último candidato presidencial republicano que conseguiu vencer em Nova Iorque foi Ronald Reagan, em 1984.
À Lusa, Khalil, um ex-polícia e motorista da plataforma Uber de 60 anos, nascido no Líbano, acredita que a forte influência italiana em Staten Island faz com que os eleitores vejam Trump como um "homem de pulso firme" e o queiram apoiar.
"Eu não voto nele, mas toda a minha vizinhança italiana vota. Ele é visto como um homem tradicional e bem-sucedido nos negócios, por isso acreditam que ele vai travar a inflação", argumentou Khalil, que referiu também não ser apoiante da vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, devido ao seu forte apoio a Israel.
"Outro motivo para votarem em Trump é porque estão a construir abrigos para imigrantes aqui. As pessoas não estão felizes com isso", acrescentou.
Desde 1936, apenas quatro candidatos presidenciais democratas conseguiram vencer em Staten Island.
Jennifer Aldridge, de 47 anos, confessa que não fala de política com a família "porque todos eles votam em Trump", enquanto ela votou em Kamala Harris.
A eleitora fez-se acompanhar à assembleia de voto com a sua filha de apenas um ano, frisando à Lusa que é também por causa da bebé que votou em Kamala: "para garantir que ela pode tomar as suas próprias decisões, sobre o seu próprio corpo", recordando a oposição de Donald Trump ao aborto.
"Se ele ganhar, será um terrível momento para se ser mulher nos Estados Unidos. Trump é um homem misógino, que menospreza as mulheres, e não me cabe na cabeça haver uma única mulher a sair em defesa dele", argumentou Jennifer.
Mais de 80 milhões de 240 milhões de eleitores norte-americanos votaram antecipadamente para as eleições de hoje, que decidem quem sucederá a Joe Biden na presidência, o controlo das duas câmaras do Congresso, além de postos de governadores estaduais e cargos a nível estadual e local.
Nas eleições presidenciais, o voto dos norte-americanos vai para um Colégio Eleitoral, constituído por 538 "grandes eleitores" representativos dos 50 estados norte-americanos (e da capital federal Washington, DC).
Dado que a maioria dos estados vota de forma inequívoca e repetida num dos partidos, tudo é decidido nos chamados estados flutuantes ('swing states'), que as sondagens dizem poder vir a ter resultados muito renhidos. Para estas eleições, os estados considerados decisivos são: Geórgia, Carolina do Norte, Arizona, Wisconsin, Pensilvânia, Michigan e Nevada.
Nestas eleições, os 435 assentos na Câmara dos Representantes serão renovados, havendo atualmente maioria republicana de 220-213. Apenas 34 dos 100 senadores vão a votos, deixando em aberto também o controlo do Senado, onde se confirmam os altos cargos do Governo e dos juízes do Supremo Tribunal Federal.
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