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"Israel assassina, Europa patrocina". Mundo protesta pela Palestina

As manifestações pró-Palestina prosseguem um pouco por todo o mundo há um ano, inclusivamente com sinais de radicalismo e até de antissemitismo que causaram alarme nalguns países.

Notícias ao Minuto

08:34 - 06/10/24 por Lusa

Mundo Médio Oriente

Na véspera do 1.º aniversário do ataque do movimento armado islamita Hamas contra Israel, e da resposta deste país com uma invasão em Gaza que causou um desastre humanitário, que incendiou a opinião pública internacional, eis a trajetória dos protestos pró-Palestina em vários países europeus e nos Estados Unidos:

 

Alemanha

As manifestações de apoio à Palestina têm sido uma constante na Alemanha, principalmente em Berlim, desde 07 de outubro de 2023, nas ruas, em atos públicos, e até nas faculdades, estando a tornar-se mais radicais.

Na página da rede social Instagram do "Palästina Spricht", um movimento na Alemanha que se define como "político, feminista, democrático e antirracista", contam-se quase 60 mil seguidores. Na agenda do mês de outubro há diferentes ações praticamente todos os dias só em Berlim, entre elas várias manifestações.

Ramsis Kilani, um porta-voz deste grupo e apoiante da rede trotskista Marx21, descreveu os atos do Hamas a 07 de outubro do ano passado como "resistência palestiniana" e "uma das maiores campanhas de desinformação da história moderna".

As autoridades alemãs reprimem frequentemente as manifestações, invocando slogans antissemitas, incidentes violentos e tensões crescentes.

No entanto, os críticos argumentam que o governo e o sistema jurídico alemães podem ser demasiado sensíveis a esta questão, em grande parte devido à sua história na Segunda Guerra Mundial e aos seus esforços para defender Israel no rescaldo do Holocausto.

A Associação Alemã de jornalistas admite que o país está a assistir a uma "radicalização crescente da cena pró-Palestina", aconselhando estes profissionais a "nunca irem sozinhos a eventos palestinianos". Iman Sefati, repórter do Bild, assumiu ao "Jüdische Allgemeine" ter sido ameaçado com uma faca à porta de casa. O diretor do Tagesspiegel, Sebastian Leber, confessa ter recebido ameaças de morte por ter criticado os protestos.

Alguns políticos alemães também já foram alvo de ataques, como o vereador da cultura de Berlim, Joe Chialo, ou o gabinete do deputado do SPD, Lars Düsterhöft, em Berlim-Oberschöneweide, onde foi escrita a frase "condenamos a Alemanha pelo genocídio".

A Associação Federal de Centros de Investigação e Informação sobre Antissemitismo (RIAS) documentou 4.782 incidentes antissemitas na Alemanha em 2023. De acordo com a ZDF, isto representa um aumento de 80% em relação ao ano anterior. Segundo o órgão de comunicação alemão, mais de metade dos incidentes ocorreram depois de 07 de outubro.

As manifestações, mais ou menos numerosas, são quase uma constante na capital alemã e já há até quem as normalize. Esta semana a polícia disse estar a investigar cinco homens, em Berlim, suspeitos de crimes "por alegadas atividades pró-palestinianas".

As autoridades têm procurado reprimir os protestos que, revelam, incluem comentários e slogans antissemitas, e por vezes atos violentos. No entanto, os críticos acusam a polícia alemã de reprimir a liberdade de expressão revelando vídeos nas redes sociais.

Espanha

Os protestos contra "o genocídio em Gaza" têm sido mobilizados em Espanha pela Rede Solidária contra a Ocupação da Palestina (RESOP), uma plataforma que junta mais de 50 organizações espanholas, desde associações a sindicatos, e que em 20 de janeiro chegou a levar às ruas meio milhão de pessoas em 115 cidades do país, segundo os organizadores dos protestos.

As manifestações em Madrid e outras cidades têm tido como palavra de ordem "Israel assassina, a Europa patrocina" e têm tido também como alvo o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, apesar de ser considerado um dos líderes europeus mais contundentes nas críticas a Israel no último ano e de ter liderado um grupo de países da Europa que reconheceu formalmente a Palestina como Estado em maio passado.

Os milhares de pessoas que têm saído à rua em Espanha consideram que a postura de Sánchez não é suficiente e pedem que Espanha acabe com qualquer relação (diplomática, comercial, desportiva) com Israel e que ponha fim "à compra e venda de armas e de tecnologia militar e de segurança" a Telavive.

As manifestações com milhares de pessoas foram recorrentes até maio passado, a que se juntaram os acampamentos de estudantes em universidades no mesmo mês.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o auge dos protestos foi atingido entre abril e maio deste ano, com acampamentos em universidades de todo o país que levaram a uma forte repressão policial e à detenção de milhares de estudantes, que foram acusados de "antissemitismo" por várias autoridades.

Os alunos, que se autodominaram como "anti-sionistas", exigiam que as suas universidades cortassem os investimentos em empresas ligadas ao fabrico de armas para Israel ou companhias que lucrassem de alguma forma com o conflito em Gaza, mas essas exigências ficaram em grande parte por cumprir.

Desde então, os protestos em grande escala têm diminuído, apesar de continuarem a ser convocados em momentos-chave, como em agosto, durante a Convenção Nacional Democrata, em Chicago, quando milhares de manifestantes exigiram que o Governo de Joe Biden e Kamala Harris cortasse no apoio militar a Israel; ou na semana passada, durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, quando manifestantes pró-Palestina se reuniram em frente ao hotel onde o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, estava hospedado.

Nova Iorque, que concentra a maior comunidade judaica do mundo fora de Israel, tem sido palco de protestos desde o início da guerra entre Telavive e o Hamas, com grupos como o 'Jewish Voice for Peace' a juntarem-se aos apelos por um cessar-fogo em Gaza e no Líbano.

O descontentamento de parte do eleitorado norte-americano face ao apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel ameaça ter repercussão nas eleições presidenciais de 05 de novembro, com milhares de ativistas a garantirem que não irão votar na vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, por causa do seu contínuo apoio a Telavive, direcionando o seu voto para candidatos independentes.

Essa insatisfação é visível desde as eleições primárias, no início do ano, quando milhares de democratas decidiram votar em branco, em protesto pela forma como o atual Governo tem apoiado Israel.

França

A França tem visto um declínio nos protestos pró-Palestina, após os bloqueios de universidades e escolas secundárias entre abril e maio por estudantes que pretendiam uma reação política e académica às operações militares israelitas contra Gaza, que qualificavam de "genocídio".

O movimento, inspirado nos protestos que agitaram as universidades nos Estados Unidos, atingiu a Universidade de Sorbonne e o Instituto de Estudos Políticos, Sciences Po, onde os campus universitários foram tomados pelos alunos através de acampamentos com tendas em Paris, Reims (nordeste) e Estrasburgo (leste).

Apesar de as manifestações pró-Palestina serem menos frequentes, o lema "Palestina livre" está presente em todas as manifestações realizadas na capital francesa pelos partidos de esquerda e esquerda radical (França Insubmissa -- LFI e Partido Comunista Francês) - com bandeiras, palavras de ordem, tendas e panfletos que tentam alertar para a situação em Gaza.

Numa das mais recentes mobilizações francesas, entre 07 e 08 de setembro, um ativista pró-palestiniano e fundador da publicação Islam et Info, Elias d'Imzalène, foi colocado sob custódia policial para ser julgado por incitamento público ao ódio em Paris, após um apelo para uma 'intifada' ("revolta", em árabe) em França.

Itália

Em Itália, observa-se um aumento da tensão à medida que se aproxima o aniversário do 07 de outubro, que coincide com a escalada do conflito e a sua extensão ao Líbano, tendo já diversos responsáveis da comunidade judaica em Itália alertado para o risco crescente de atos antissemitas violentos.

Os receios aumentaram depois de, no último fim de semana de setembro, algumas centenas de ativistas se terem manifestado em Roma e em Milão, com os manifestantes nesta segunda cidade a observarem um minuto de silêncio em memória do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, morto nesse dia num ataque israelita no Líbano, e a empunharem cartazes com imagens de alguns famosos judeus italianos, entre os quais a senadora vitalícia Lilian Segre, sobrevivente do holocausto, acusados de serem "agentes sionistas".

"Todos os limites foram ultrapassados e o que aconteceu mostra o que podem vir a ser as marchas não autorizadas por ocasião do aniversário do 07 de outubro", reagiu a comunidade judaica de Roma, enquanto o líder da comunidade judaica de Milão, Walker Meghnagi, advertiu que se está "a um passo da caça aos judeus e de atos de violência aberta contra instituições judaicas religiosas e não religiosas e seus representantes".

Em Roma, a segurança em torno do bairro judeu e de outros locais judaicos foi reforçada, por receio de perturbações à ordem pública e potencial glorificação do massacre cometido pelo Hamas a 07 de outubro do ano passado. A decisão foi saudada pelo ministro do Interior e criticada por ativistas pela Palestina, com alguns grupos a ameaçarem desobedecer e sair às ruas.

No sábado, a polícia italiana lançou gás lacrimogéneo, usou canhões de água e bastões para dispersar manifestantes violentos, muitos com o rosto coberto, numa marcha pró-Palestina em Roma, que tinha começado de forma pacífica. O protesto reuniu cerca de 7.000 pessoas numa praça da capital italiana, sem desfile pelas ruas da capital, dado que as autoridades tinham blindado a zona com um forte dispositivo policial.

A merecer provavelmente ainda mais atenção das autoridades do que a efeméride do 07 de outubro estará o jogo de futebol entre Itália e Israel, para a Liga das Nações, agendado para 14 de outubro em Udine. As autoridades da cidade rejeitaram ser patrocinadoras da partida e autorizaram uma manifestação pró-Palestina a decorrer naquela cidade três horas antes do jogo.

Reino Unido

Os protestos de organizações britânicas como a Campanha de Solidariedade pela Palestina mobilizam regularmente milhares de pessoas pelo menos um sábado por mês, que têm sido essencialmente pacíficos e ecléticos, juntando ativistas políticos de esquerda, sindicatos, judeus e cidadãos comuns defensores de um cessar fogo e paz na região.

Mas os protestos também atraíram críticas devido a alguns cânticos considerados antissemitas e por alguns participantes mostrarem apoio ao movimento islamita Hamas, considerado uma organização terrorista no Reino Unido, o que resultou na detenção de dezenas de pessoas.

A polícia, sobrecarregada com a necessidade de manter a segurança destes eventos e de contra-protestos da extrema-direita, foi criticada igualmente por alegado "favoritismo" por autorizar as manifestações pró-Palestina de políticos pró-israel, incluindo a antiga ministra do Interior Suella Braverman.

Leia Também: Homem tenta incendiar-se durante protesto contra guerra em Gaza nos EUA

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