Kyiv recusa a ideia de desmilitarizar Crimeia sob mandato da ONU
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia rejeitou hoje a sugestão do chefe da diplomacia polaca, Radoslaw Sikorski, de desmilitarizar e colocar a Crimeia sob mandato da ONU, recordando que é fundamental recuperar essa península.
© BRENDAN SMIALOWSKI/AFP via Getty Images
Mundo Ucrânia/Rússia
"A integridade territorial da Ucrânia nunca foi nem nunca será objeto de debate ou compromisso. A Crimeia é a Ucrânia. Ponto final", sublinhou hoje o Ministério dos Negócios Estrangeiros na rede social X.
A diplomacia ucraniana reforçou a ideia de que os esforços devem concentrar-se na implementação da Fórmula de Paz e na devolução a Kyiv da península e de outros territórios ocupados pela Rússia e "não em satisfazer os apetites do Kremlin, de uma forma ou de outra, à custa dos interesses ucranianos e do direito internacional".
Sikorski expressara aquela sua posição num debate numa conferência de segurança realizada em Kyiv no fim de semana passado.
O chefe da diplomacia polaca disse nessa altura que a Crimeia é uma parte central de qualquer possível acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia devido à sua importância simbólica para o Presidente russo, Vladimir Putin.
Neste contexto, Sikorski sugeriu que a única forma de chegar a um compromisso seria desmilitarizar a península.
"Poderíamos colocá-lo sob um mandato das Nações Unidas com a missão de preparar um referendo justo, depois de estabelecer quem são os residentes legais, etc. (...) E poderíamos adiá-lo por 20 anos", propôs o ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, como opção.
A ideia causou consternação generalizada na Ucrânia.
"Isto contradiz os princípios do direito internacional, o princípio da integridade territorial em particular e também a Constituição da Ucrânia", comentou Oleksandr Merezhko, deputado do partido do Presidente Volodymyr Zelensky e chefe da Comissão dos Assuntos Externos do Parlamento.
Merezhko descreveu as palavras de Sikorski como "perigosas" e "descuidadas" face aos esforços do Governo ucraniano para obter apoio internacional para o restabelecimento da sua integridade territorial.
"Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, não tem o direito de fazer tais declarações, que são percebidas como a posição oficial da Polónia", sublinhou Merezhko.
A proposta de Sikorski foi também condenada pelos representantes da comunidade tártara da Crimeia, uma minoria nativa da península que tem sofrido uma crescente repressão e uma redução das suas liberdades sob o domínio russo.
"O Mejlis (o representante supremo e órgão executivo) do povo tártaro da Crimeia considera tais declarações inaceitáveis e cínicas", declarou o seu líder, Refat Chubarov, em comunicado.
Segundo Chubarov, o primeiro passo para estabelecer a paz deve ser uma retirada completa das forças russas da península e nenhuma discussão sobre o futuro da Crimeia deve ocorrer sem a participação da Ucrânia e dos tártaros da Crimeia.
Dezenas de milhares de tártaros da Crimeia tiveram de fugir para evitar a detenção e muitos temem nunca mais poder regressar, pelo que a proposta de Sikorski cria um sério obstáculo à restauração dos seus direitos, alertou.
Entretanto, a Rússia também considerou absurda a sugestão do ministro polaco.
"O território russo, as regiões russas, não podem ser objeto de qualquer debate ou transferência para ninguém", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
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