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Analistas: Operação 'beepers' é a mais "impressionante" em décadas

A explosão de milhares de aparelhos de comunicação usados pelo grupo libanês Hezbollah foi já considerada como uma das operações secretas mais espetaculares das últimas décadas, com especialistas a atribuí-la à organização israelita Mossad.

Analistas: Operação 'beepers' é a mais "impressionante" em décadas
Notícias ao Minuto

14:05 - 20/09/24 por Lusa

Mundo Tensão no Médio Oriente

Durante dois dias, na terça e na quarta-feira, no Líbano e na Síria, 'beepers' e depois 'walkie-talkies', instrumentos de comunicação comuns, foram transformados em engenhos explosivos.

 

Como acontece frequentemente nestas circunstâncias, a assinatura da operação não foi provada, mas tem a marca da Mossad, o serviço de informações externas de Israel, segundo a agência francesa AFP.

A reputação da Mossad foi afetada por não ter conseguido impedir o ataque do Hamas a Israel, em 07 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza, com um saldo de dezenas de milhares de mortos.

A operação contra o Hezbollah, que tem atacado Israel a partir do sul do Líbano para ajudar o Hamas, começou com a explosão dos 'pagers' na terça-feira, 17 de setembro.

Os pequenos aparelhos, uma relíquia das décadas de 1980 e 1990, permitem receber mensagens e alertas sonoros através de uma frequência de rádio própria, fora das redes de telemóveis. Assim, não há o risco de serem escutados.

As explosões ressoaram no coração de vários redutos do Hezbollah nos subúrbios do sul de Beirute, no sul do Líbano e na planície oriental de Bekaa. E tão longe quanto a Síria.

As imagens captadas por câmaras de vigilância mostraram cenas de horror: mãos arrancadas, olhos mutilados... uma rapariga de 10 anos foi a primeira vítima mortal a ser identificada, seguida do filho de um deputado do Hezbollah.

Foram montadas tendas para acolher dadores de sangue e os feridos ficaram deitados no meio da rua, no meio dos engarrafamentos. Um 'pager' explodiu nas mãos de um homem no meio do mercado.

As escolas e as universidades foram encerradas.

Nessa mesma manhã, vários dirigentes israelitas, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, tinham anunciado que pretendiam permitir o regresso a casa dos habitantes do norte do país, sugerindo a necessidade de empurrar o Hezbollah para o interior do Líbano.

As embaixadas e os grupos de reflexão elaboraram cenários de guerra. Ataques, operações terrestres iminentes. Mas nenhum deles se aproximou do que estava a acontecer na realidade.

Em tempo real, por detrás do espanto, multiplicaram-se as conjeturas que convergiam para uma infiltração de Israel na cadeia de abastecimento do Hezbollah.

"Não se trata de um feito tecnológico", disse um espião europeu sob a condição de não ser identificado, sublinhando o êxito excecional da operação.

"É o resultado da inteligência humana e de uma logística pesada. Há mil maneiras de o conseguir", afirmou, citado pela AFP.

As autoridades israelitas permaneceram em silêncio.

Quanto ao movimento pró-iraniano, ficou profundamente desestabilizado.

"O Hezbollah sofreu um golpe muito duro do ponto de vista tático", disse à AFP Yoram Schweitzer, antigo agente que se tornou investigador no Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS) em Telavive.

"Um golpe impressionante e abrangente que afeta os aspetos operacionais e cognitivos, obrigando-o a trabalhar na sua própria defesa" e a identificar as próprias fraquezas, referiu.

O Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW) afirma que cerca de 5.000 'beepers' foram enviados para o Líbano há cerca de cinco meses.

Como é que foram sabotados? Um oficial de segurança libanês afirmou que "estavam pré-programados para explodir e continham materiais explosivos colocados junto à bateria".

Os pequenos aparelhos foram intercetados pelos serviços israelitas antes de chegarem ao Líbano, segundo várias fontes citadas pelo jornal New York Times.

Enquanto se multiplicavam condenações e apelos à calma, os 'walkie-talkies' explodiam, na quarta-feira, nos subúrbios de Beirute, na região de Baalbek e em Saida (leste), alguns deles durante os funerais das vítimas do dia anterior.

De acordo com o Ministro da Saúde libanês, 37 pessoas morreram nas explosões dos dois dias e mais de 3.000 ficaram feridas.

Trata-se de um ato de guerra excecional, segundo a AFP. Além do custo humano para a hierarquia do movimento xiita, o seu sistema de comunicações terá de ser reconstruído.

"Um mentor disse-me uma vez: 'Um combatente que não consegue falar está a acampar'", comentou o general norte-americano reformado Mark Hertling nas redes sociais.

"Nunca ouvi falar de um combatente que não consegue falar", acrescentou.

Os membros do Hezbollah "foram surpreendidos na sua vida quotidiana, no coração das suas comunidades", disse Peter Harling, fundador do laboratório de investigação Synaps Network, citado pela AFP.

A "violação é extraordinariamente difícil de explicar. A noção de que alguém poderia transformar dispositivos tão rudimentares como os 'pagers' em máquinas de matar é absolutamente inimaginável", acrescentou.

Na quinta-feira, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, prometeu a Israel "um castigo terrível", admitindo um "golpe severo e sem precedentes" e acusando o inimigo de ter "ultrapassado todas as linhas vermelhas".

O Irão denunciou o "assassínio em massa" e falou de "uma resposta esmagadora".

A operação 'beepers' "não altera a equação, não é uma vitória decisiva. Mas envia um sinal ao Hezbollah, ao Irão e aos seus outros aliados" na região, disse Yoram Schweitzer.

Uma mensagem de que "Israel está provavelmente pronto para ser mais empreendedor, senão mesmo mais agressivo", acrescentou o investigador do INSS em Telavive.

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