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Abuso sexual em lares infantis expõe fragilidades na Malásia

Uma operação da polícia a 20 lares islâmicos de assistência infantil na Malásia, onde centenas de crianças foram alegadamente abusadas sexualmente, expôs fragilidades na proteção das crianças no país, divulgou hoje a agência de notícias Associated Press (AP).

Abuso sexual em lares infantis expõe fragilidades na Malásia
Notícias ao Minuto

13:12 - 13/09/24 por Lusa

Mundo Malásia

As autoridades malaias resgataram 402 crianças, rapazes e raparigas, de 20 casas geridas pela Global Ikhwan Services and Business Holdings, um grupo que visa promover o modo de vida islâmico, durante uma operação da polícia que foi realizada na quarta-feira.

 

A polícia deteve 171 suspeitos, incluindo professores religiosos e cuidadores.

O grupo empresarial foi fundado por Ashaari Mohamad, que chefiou a seita islâmica Al-Arqam -- um culto que foi considerado herético e proibido pelo Governo em 1994. Mohamad morreu em 2010, mas o grupo continuou as suas atividades.

Os detalhes dos alegados abusos nas casas provocaram indignação e choque na nação, predominantemente muçulmana.

Os ativistas apelaram a que todos os centros infantis fossem regulamentados e vigiados e que o departamento de assistência social reforçasse a fiscalização das instituições religiosas.

"O horrível abuso sexual e físico que foi reportado (...) é um grande alerta. Exige que reavaliemos a qualidade e o âmbito dos nossos serviços de proteção infantil", afirmou um grupo de 38 ativistas infantis, grupos de direitos humanos e assistentes sociais numa declaração conjunta.

O chefe da polícia nacional, Razarudin Ismail, disse que algumas das crianças, com idades entre 1 e 17 anos, foram sodomizadas pelos seus tutores e também ensinadas a abusar sexualmente umas das outras. Ismail afirmou que lhes foi negado tratamento médico e queimados com colheres de metal quente como castigo por terem sido desobedientes.

As crianças, que eram filhos de funcionários da Global Ikhwan, foram colocadas em lares desde crianças e acredita-se que tenham sido doutrinadas desde pequenas para serem leais ao grupo, disse a polícia.

Segundo a polícia, as crianças foram exploradas para recolher donativos públicos. O caso está a ser investigado pelos crimes de abuso sexual, negligência infantil e tráfico humano.

Razarudin, citado hoje pela agência de notícias nacional Bernama, declarou que 49 crianças com menos de 5 anos e outras 10 que eram autistas ou têm deficiências foram entregues ao Departamento de Bem-Estar malaio.

Os restantes ainda estão a passar por exames médicos. Disse que até agora pelo menos 13 adolescentes foram sodomizados, enquanto 172 apresentam lesões físicas e emocionais de longa duração.

Razarudin disse que as crianças não têm educação formal, alguns deles não veem os pais há anos, pois a entidade enviou-os para trabalhar no estrangeiro. A polícia investiga se as crianças foram separadas dos pais voluntariamente ou forçadas pela Global Ikhwan.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) na Malásia disse que as crianças vão necessitar de apoio médico e psicológico a longo prazo para o trauma que sofreram.

"Enquanto as crianças na Malásia residirem em ambientes de acolhimento institucional não regulamentados, continuarão em risco acrescido de sofrer violência e abuso", afirmou o seu representante do UNICEF para a Malásia, Robert Gash.

Mokhtar Tajudin, porta-voz da Global Ikhwan, disse hoje à Associated Press que as casas não eram geridas diretamente pelo grupo e não forneceu mais detalhes sobre o caso.

A Global Ikhwan, num comunicado, negou as acusações de abuso sexual, considerando-as uma tentativa de certas partes de manchar a reputação comercial do grupo.

A Global Ikhwan possui minimercados, padarias, restaurantes, farmácias, propriedades e outros negócios em cerca de 20 países. A empresa emprega cerca de 5.000 pessoas.

A Global Ikhwan ganhou destaque em 2011, quando formou um "Clube de Esposas Obedientes" que gerou controvérsia ao ensinar as mulheres a serem "boas no sexo" para evitar que os seus maridos se desviassem.

Ahmad Fauzi Abdul Hamid, professor de Ciência Política na Universiti Sains Malaysia, que realizou uma investigação sobre o Global Ikhwan, disse que o grupo era uma "história de sucesso económico" e há uma década concordou em reformar e romper laços com a Al-Arqam.

O professor declarou que, embora as aldeias comunais de Al-Arqam tenham sido abolidas pelo Governo malaio há décadas, muitos seguidores mudaram-se para casas urbanas, mas acredita-se que praticavam a mesma forma de vida comunitária.

As crianças foram enviadas para estas casas para obter ensinamentos islâmicos, uma vez que os pais trabalham para a empresa, disse Hamid.

Poucos detalhes são conhecidos sobre os seus ensinamentos religiosos ou sobre como a empresa funciona à porta fechada. O seu vídeo corporativo mostrava fotografias de altos funcionários da Global Ikhwan com o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, e outros líderes governamentais, um indício da sua influência.

A comissária para as Crianças da Comissão de Direitos Humanos da Malásia, Farah Nini Dusuki, questionou como é que as casas poderiam ter funcionado sem serem detetadas durante anos.

As autoridades islâmicas do estado central de Selangor, onde se situa a maioria das casas alvo da operação da polícia, disseram que apenas duas das casas estavam registadas como escolas islâmicas.

A comissária também expressou a sua preocupação com possíveis casos de abuso não denunciados devido à rede nacional da Global Ikhwan. As autoridades islâmicas disseram que estão a vigiar o Global Ikhwan, quando há preocupações com as tentativas de reavivar o movimento Arqam.

Muitas vezes indicada como uma nação muçulmana moderada, a Malásia desconfia dos grupos que pregam o Islão sem serem sancionados pelo Governo, por receio que possam causar agitação. Os muçulmanos representam dois terços dos seus 34 milhões de habitantes.

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