Quem é Nicolás Maduro, o "presidente operário" apoiado nos militares?
Autoproclamado "presidente operário", Nicolas Maduro apela agora, enquanto vencedor de umas eleições presidenciais que a oposição venezuelana e parte da comunidade internacional consideram novamente fraudulentas, aos seus aliados de sempre: os militares e o povo a que diz pertencer.
© Jesus Vargas/Getty Images
Mundo Venezuela
Maduro recebeu formação revolucionária em Cuba, foi condutor de autocarros e fez o início da carreira política nos sindicatos dos transportes públicos, até se tornar um delfim do falecido presidente Hugo Chávez e seguir as suas pisadas até se tornar chefe de Estado da Venezuela.
No topo deste percurso, Maduro nunca se esqueceu de agradecer ao que sabe ser o seu melhor trunfo político: o exército, a quem, em múltiplos discursos, reconhece "a lealdade e disciplina".
Quando, em 2019, tomou posse para o segundo mandato no Supremo Tribunal (porque a Assembleia Nacional lhe rejeitou legitimidade), foi ao lado das mais altas patentes militares que jurou cumprir a Constituição.
Nos governos de Hugo Chávez, os militares representavam 25% do executivo, mas com Maduro chegaram a estar presentes em metade da equipa governativa e ainda hoje controlam as áreas políticas mais sensíveis.
No meio dos militares, Nicolás Maduro desenhou o primeiro programa eleitoral, que o levou a presidente da Venezuela em 2014, com a promessa de tornar o país numa "potência mundial".
De Hugo Chávez, herdou a autoridade, o estilo e o ódio aos EUA, que rapidamente transformou num dos principais alvos de críticas e de ameaças.
Por isso, não espanta que os Estados Unidos tenham sido os primeiros a reconhecer o governo provisório de Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente interino da Venezuela.
Maduro sempre se orgulhou de não ter precisado dos bancos das Faculdades para adquirir o conhecimento que o levou a ser idolatrado por milhões, mas também odiado por tantos outros, numa atitude política sempre desafiante.
Nas eleições de maio de 2018, quando ganhou com mais de 60% dos votos, a oposição queixou-se de falta de transparência, de pressões ilícitas sobre adversários, de chantagem sobre os eleitores.
Mas o homem que se autointitula "presidente operário", respondeu como sempre, perante as várias crises que atravessou, dizendo que tem o "povo ao seu lado" e que apenas responde "perante o povo".
Segundo o Instituto de Imprensa e Sociedade, durante o seu mandato Maduro eliminou 55 meios de comunicação social, alegando que distorciam a "verdade do Estado" e dizendo que estavam ao serviço de "forças estranhas à democracia venezuelana".
Os adversários têm outra versão e dizem que Maduro nunca lidou bem com a liberdade de expressão.
Mas todos, aliados e inimigos, reconhecem a Maduro uma insuperável habilidade para a negociação (apurada no seu passado sindicalista), a que junta generosas doses de boa disposição e uma disciplina férrea (que o levam a ficar a trabalhar noite dentro e a dispensar dias de descanso).
Alguns biógrafos atribuem a disciplina e o método às origens familiares, de que pouco se sabe, até porque Maduro evita falar sobre os pais, já falecidos, tal como nunca esclareceu os rumores segundo os quais teria nascido na Colômbia (o que lhe retiraria possibilidade de ser eleito presidente da Venezuela, segundo a Constituição).
Essa perseverança e disciplina permitiram a Maduro ter sido deputado na Assembleia Nacional (2000 -- 2006) e ministro dos Negócios Estrangeiros, no tempo de Chávez, onde aproveitou para se aproximar de líderes controversos, como Muammar Khadafi, da Líbia, Robert Mugabe, do Zimbabué, e Mahmud Ahmadinejad, do Irão.
Esta experiência política permitiu a Maduro tomar as rédeas do poder na convalescença de Chávez, nas primeiras semanas de 2013, conseguindo sobrepor-se ao seu principal rival no aparelho chavista, Diosdado Cabello, e preparando a sua chegada à Presidência.
E ninguém duvidou desse destino, quando o ouviram anunciar ao país e ao mundo a morte de Hugo Chávez, em 5 de março de 2013.
Logo de seguida, ficou como presidente interino e ganhou as eleições de abril de 2014, contra Henrique Capriles, por uma margem mínima e já nessa altura com fortes protestos da oposição.
Mas a promessa de sonho do "presidente operário" de transformar a Venezuela numa rica potência mundial descambou num pesadelo de crises políticas e económicas, com uma inflação de vários dígitos, falta de mantimentos e de medicamentos no país, levando milhões de venezuelanos a fugir do país, nos últimos anos.
Mas Maduro sempre resistiu, entrincheirando-se com os militares sempre fiéis e atirando as culpas das crises para as forças estrangeiras, em particular os EUA e a União Europeia.
Mesmo com a popularidade em queda, Maduro alimentou a esperança de recuperar o país, procurando aliados com promessas de futuras benesses a partir da riqueza natural do petróleo e fazendo aos venezuelanos juras de melhor futuro, mesmo contra as previsões de organizações económicas e isolado do apoio internacional (até o Grupo de Lima -- com 14 países das Américas -- lhe virou as costas).
Mas, Maduro nunca expressou fragilidades, repercutindo na vida pública a reserva da vida privada, de um homem que não expõe a família, apesar de a sua mulher, Cilia Flores, ter ocupado importantes cargos públicos durante a época do regime "chavista".
De Cilia, Maduro não tem descendência, mas tem um filho de um anterior casamento: Nicolás Maduro Guerra, que faz parte do grupo de apoio ao governo na Assembleia Nacional.
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