Apesar de Melenchon já se ter manifestado disponível para assumir o cargo de primeiro-ministro - tem-se desdobrado em entrevistas em que assegura “estar pronto” para liderar o executivo, ressalvando que não se quer impor -, os restantes partidos têm todos recusado em bloco essa possibilidade.
Ao contrário das últimas eleições legislativas, em 2022, em que a esquerda unida - na altura sob a égide da Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES) - tinha concordado no nome do líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, para assumir o cargo de primeiro-ministro, desta vez a coligação optou por deixar essa escolha para depois das legislativas.
Essa opção deve-se, em parte, ao facto de a França Insubmissa ter perdido a centralidade na coligação de esquerda e não conseguir impor aos restantes partidos uma das suas personalidades.
Enquanto que, em 2022, Jean-Luc Mélenchon era um protagonista incontornável da coligação de esquerda - fruto dos 21,95% dos votos que o candidato tinha alcançado nas presidenciais -, agora a balança mudou.
Nas últimas eleições europeias, de 09 de junho, a lista apoiada pelos socialistas, e encabeçada por Raphaël Glucksmann, ficou em segundo lugar, com 14,60% dos votos, ultrapassando a França Insubmissa, que se ficou pelos 9,89%.
“Mélenchon não vai ser primeiro-ministro”, garantiu Raphaël Glucksmann esta semana, à semelhança do que tem sido repetido por várias personalidades dos partidos da coligação mais próximos do centro, que temem que Jean-Luc Mélenchon, por ser visto como demasiado radical, possa desviar eleitorado para a coligação presidencial.
Segundo uma sondagem divulgada esta terça-feira, Mélenchon é a personalidade política com a maior taxa de rejeição junto do eleitorado francês, em particular devido à sua posição sobre o conflito na Faixa de Gaza, tendo recusado qualificar o Hamas como movimento terrorista.
“Hoje, se o Jean-Luc Mélenchon quer ajudar a Nova Frente Popular, tem de pôr-se de lado e calar-se”, sintetizou o ex-presidente francês François Hollande, que também é candidato a deputado no âmbito da coligação, num círculo eleitoral em Corrèze.
Esta rejeição do nome de Mélenchon teve o efeito de criar uma verdadeira corrida de candidatos ao cargo, com várias personalidades da coligação a mostrarem-se disponíveis para poderem vir a ser primeiros-ministros.
Até ao momento, o secretário nacional do Partido Comunista francês, Fabien Roussel e o candidato da França Insubmissa que teve a ideia da Nova Frente Popular e entrou em confronto com a direção do partido, François Ruffin, já se mostraram disponíveis para assumir o cargo.
No entanto, além do nome da personalidade, o método que deve ser utilizado para escolher o eventual futuro primeiro-ministro também está a gerar divisão dentro da coligação de esquerda.
Para Jean-Luc Mélenchon e a França Insubmissa, deve ser o partido que obtiver o maior número de deputados dentro da coligação de esquerda a escolher o futuro nome para primeiro-ministro. Tendo em conta que, no âmbito da Nova Frente Popular, a França Insubmissa é o partido com o maior número de candidatos (229), seria o partido a escolher o primeiro-ministro em caso de vitória.
No entanto, este método é rejeitado pelos restantes partidos, com o primeiro secretário do Partido Socialista francês, Olivier Faure, a defender que essa escolha deve ser feita através de uma eleição entre todos os deputados que forem eleitos pela coligação.
“Eu não posso impor um primeiro-ministro socialista. Ninguém pode impor um primeiro-ministro da França Insubmissa. Portanto, a única maneira de chegar a uma escolha, vai ser através do voto”, afirmou.
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