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Ascensão do populismo "aponta para problemas na democracia"

O historiador norte-americano Ethan Kleinberg alertou hoje que os movimentos populistas revelam a fragilidade da democracia atual ao recuperarem mitos do passado para justificar o regresso de políticas que tantos danos já causaram à humanidade.

Ascensão do populismo "aponta para problemas na democracia"
Notícias ao Minuto

10:29 - 24/05/24 por Lusa

Mundo Ethan Kleinberg

Falando à Lusa à margem do encontro internacional que termina hoje em Lisboa subordinado ao tema "Fazer história em tempos de exigências políticas conflituosas", o diretor do Centro para a Humanidade da Universidade de Wesleyan salientou que "a história da humanidade está a desmoronar-se e isso conduziu a uma espécie de liberdade para todos, a que se poderia chamar um modelo de 'escolha a sua própria verdade'", em que os "peritos são desvalorizados".

A isso se soma a criação de "um mito nacional em torno de algo como um destino manifesto ou um excecionalismo" que evoca um passado glorioso de um país ou uma dimensão única de uma nação por parte de intelectuais desses movimentos que afrontam a democracia liberal.

"Isso é uma das coisas que faz o populismo funcionar", a "ideia de que somos ou fomos diferentes e melhores" enquanto país. E depois, "as pessoas que são racistas ou misóginas ouvem esse apelo político" à mudança, "um argumento muito poderoso, muito problemático e difícil de escapar".

"A ascensão deste tipo de pensadores de extrema-direita ou populista aponta, de facto, para problemas na democracia, mostrando que, como aconteceu nos anos 30 do século passado [época da ascensão dos fascismos na Europa], estes movimentos fazem parte do que acontece numa democracia degradada, que temos tido medo de confrontar por causa da sua instabilidade ou a fragilidade", explicou o investigador.

Neste contexto, os "historiadores têm muito para oferecer, mas em parte complicando o quadro" de análise do passado, mas "as pessoas não gostam atualmente de coisas complexas, querem simples", muitas vezes com 'fake-news', e preferem uma historiografia "feita de má-fé", que não é baseada em provas ou análise crítica.

No espaço público, "qualquer um pode dizer que é cientista ou historiador", com "histórias deturpadas, sem análise crítica ou provas, que obedecem a uma agenda ideológica", alertou o investigador, que se tem dedicado a estudar as formas como o passado assombra o nosso presente e nos pressiona para o futuro.

Para responder a este momento de "mudança do pensamento científico", Ethan Kleinberg considera que os "historiadores têm de escolher armas diferentes, porque não podem simplesmente apontar para os factos que acumularam ou dizer que os conhecem melhor".

Isso "não chega, porque ninguém os ouve". Por isso é preciso que usem "ferramentas mais agressivas" e que se afastem "do tom de objetividade neutra", procurando "outras formas de chegar ao público, outras formas narrativas, talvez mais imaginativas".

Até porque "temos uma população que está realmente interessada na história do passado, mas que não está interessada no que os historiadores académicos a estão a contar", acrescentou.

Por outro lado, concluiu Ethan Kleinberg, são necessárias "ideias novas" para a sociedade.

"As ideias e as ideologias são as mesmas do século XIX. Estamos no século XXI e precisamos de soluções diferentes para os problemas atuais", desafiou.

Leia Também: Historiadores em Lisboa recusa uso populista da história

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