As autoridades israelitas apreenderam o equipamento depois de acusarem a agência de notícias dos Estados Unidos de violar uma nova lei dos 'media', ao fornecer imagens à estação televisiva qatari Al-Jazeera, cujas instalações locais encerraram a 05 de maio, ao abrigo da nova lei, confiscando o respetivo equipamento, proibindo as suas emissões e bloqueando os seus 'sites' na Internet.
O Governo Biden, organizações jornalísticas e o líder da oposição israelita pressionaram o executivo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, depois de as autoridades terem apreendido o material de trabalho dos jornalistas da AP em Gaza.
A Al-Jazeera, que tem sede no Qatar, é uma de milhares de clientes da AP e recebe imagens em direto da AP e de outros meios noticiosos.
"A Associated Press lamenta veementemente as ações do Governo israelita para impedir a nossa transmissão em direto há muito iniciada, que fornece uma perspetiva de Gaza, apreendendo o equipamento da AP", declarou a vice-presidente de comunicações empresariais da agência noticiosa, Lauren Easton.
"O impedimento [da captação de imagens] não se deveu ao conteúdo da transmissão, mas à utilização abusiva pelo Governo israelita da nova lei de radiodifusão estrangeira do país", sublinhou a responsável da agência norte-americana.
Funcionários do Ministério das Comunicações israelita entraram hoje à tarde nas instalações da AP na cidade de Sderot, no sul do país, apreenderam o equipamento de filmagem e entregaram à AP um documento, assinado pelo Ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, alegando que a agência norte-americana estava a violar a lei das emissoras estrangeiras.
Foi também Karhi o ministro que agora ordenou a devolução do material à Associated Press.
Pouco antes da apreensão do seu equipamento, a AP estava a transmitir um panorama geral do norte de Gaza.
A AP cumpre as regras de censura militar de Israel, que proíbe a transmissão de pormenores, como movimentos de tropas, que possam pôr em perigo os soldados. O vídeo em direto mostrava geralmente fumo a elevar-se do território palestiniano, há mais de sete meses no centro de uma guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas.
Na passada quinta-feira, a AP recebeu ordens verbais para cessar a transmissão em direto, o que recusou.
O líder da oposição israelita, Yair Lapid, classificou a medida contra a AP como "um ato de loucura".
"Isto não é a Al-Jazeera, é uma agência noticiosa norte-americana", sublinhou, acrescentando: "Este Governo age como se tivesse decidido garantir a todo o custo que Israel será banido por todo o mundo".
"A medida hoje adotada por Israel foi um passo em falso", afirmou a Associação da Imprensa Estrangeira num comunicado, alertando de que a nova lei "pode permitir que Israel bloqueie a cobertura mediática de praticamente qualquer acontecimento noticioso com base em vagas razões de segurança".
Há muito que Israel tem uma relação difícil com a Al-Jazeera, acusando-a de ser tendenciosa contra o país, e Netanyahu chamou-lhe um "canal de terror", que propaga incitamentos à violência.
A Al-Jazeera é um dos poucos canais internacionais de notícias que permaneceu na Faixa de Gaza durante a guerra iniciada a 07 de outubro do ano passado, transmitindo imagens de ataques aéreos e de hospitais sobrelotados e acusando Israel de massacres.
[Notícia atualizada às 22h09]
Leia Também: ONU defende jornalismo sem assédio após corte de transmissão em Gaza