O serviço militar é obrigatório em Israel, mas os ultraortodoxos podem escapar ao recrutamento se dedicarem o seu tempo a estudar os textos sagrados do judaísmo, uma isenção instaurada pelo então primeiro-ministro Ben Gurion, aquando da criação do Estado de Israel em 1948.
Inicialmente a isenção abrangia 400 jovens, mas hoje atinge 66 mil homens com idades entre os 18 e os 26 anos.
A lei que permitia essa exceção tinha sido invalidada em 2012 pelo Supremo Tribunal, que exigiu um novo texto, mas os sucessivos governos e os partidos ultraortodoxos acabaram sempre por conseguir acordos provisórios, nunca concordando em pôr fim à isenção.
Ao longo dos anos, as críticas foram sendo amplificadas na sociedade israelita, desde os partidos laicos até às organizações não-governamentais (ONG), que exigiram ao Supremo Tribunal o recrutamento imediato dos ultraortodoxos, por respeito ao princípio da igualdade.
A alta jurisdição deu ao Governo um prazo de até 27 de março para fazer uma proposta, mas na quinta-feira o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, enviou uma carta pedindo mais 30 dias.
No mesmo dia, o Supremo Tribunal emitiu uma decisão provisória prevendo, a partir de 01 de abril, o congelamento de fundos públicos destinados a estudantes de escolas talmúdicas que não se apresentem para o serviço militar, mas sem dar prazo para sanções contra aqueles que se recusarem a aparecer.
O especialista militar Yair Ettinger, ouvido pela AFP, considera que os jovens podem, em teoria, ser chamados ao serviço militar, "mas a polícia não virá prendê-los porque declará-los desertores levará tempo, e o tribunal deverá decidir sobre essa questão em maio".
"Os líderes ultraortodoxos querem uma nova lei que garanta que os seus estudantes não sejam forçados a ingressar no exército, mas isso não será fácil, nem política nem legalmente", acrescenta Ettinger.
A coligação governamental de Netanyahu baseia-se em grande parte na aliança com os dois principais partidos ultraortodoxos, o Shass e o Judaísmo da Torá Unida, que se opõem ferozmente ao recrutamento de judeus ultraortodoxos (haredim, em hebraico). A sua deserção derrubaria a coligação.
Mas, segundo Ettinger, a opção de novas eleições provocadas pelos ultraortodoxos parece improvável na medida em que "este governo é o mais favorável aos interesses dos haredim".
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